12.27.2004


Dança das Bacantes Vieira Portuense, 1799
Gravura de G. F. Queiroz
47 x 50 cm.
Biblioteca Geral da Faculdade de Ciências do Porto
Foto de: Emanuel Santos de Almeida

Das Bacantes às Nymphs.... que raio de tradução!

A Dança das Bacantes, gravura de Vieira Portuense de 1799, presente na Biblioteca Geral da Faculdade de Ciências do Porto, foi, para a época, o culminar do revivalismo arqueológico da Antiguidade que então se vivia.

Exposta no Salão da Royal Acamedy of Arts, nesse mesmo ano, com o número 868 do catálogo, apresentou-se com a fidedigna tradução de A dance of nymphs.
Nada a acrescentar se a tradução fosse a exacta...

O letrado tradutor, pelo contrário, adulterou todo o sentido da composição. De Bacantes excitantes e provocatórias no seu culto isotérico, a Ninfas, juviais e inocentes, belíssimas, sem dúvida, mas sem a carga eminentemente sexual das primeiras.

Senão vejamos o significado de uma e de outra:

Por Bacante, designamos as sacerdotisas do culto a Baco, as mulheres que tomavam parte nos bacanais.
De puritanas à procura da elevação do espírito e à santificação da vida, rapidamente o fanatismo pelo culto tomou proporções grutescas, em que os excessos, a embriaguês e o furor orgiástico procurava alcançar uma elevação superior. Correspondiam a três grupos: as Furiosas (verdadeiras ninfomaníacas que, depois de sugarem os fluídos corporais, antropofajavam os vários parceiros, segundo a minha fértil imaginação!); as Tíadas ou sacerdotisas (puras donzelas que não aceitavam a fornicação pura e simples, ao contrário, mascaravam-se com presopas gregas com vista a não serem reconhecidas, mantendo assim limpa a sua imagem santificada... que delírio!); e as Coras (verdadeiras devassas, do mais puro hardcore clássico, aliás, será esta a origem da palavra, já que a depravação chegava a tal ponto que faziam-se concursos públicos para se saber quem aguentava com mais indivíduos...[!?]).

Já as Ninfas... eram verdadeiras divindades! Personificavam a força da Natureza, especialmente o princípio húmido que presidia aos rios, fontes, etc. Para Homero, eram filhas de Zeus, nascidas das águas dos céus que, caminhando por vias secretas, apareciam à superfície sobre a forma de mananciais.

Corrigimos, pois, 205 anos depois, o erro do editor do catálogo!

Pelo erro pedimos as nossas desculpas!!!

12.22.2004

Dr. Mirandela... ou o cientista que sabia escrever!



- Tratado único do uso e administração do azougue nos casos em que é poïbido, Lisboa, 1708;
- Medicina Lusitana: socorro délfico aos clamores da natureza humana para total profligação de seus males, Amsterdão, 1710 (2ª ed., 1731)
e Âncora Medicinal para conservar a vida com saúde, Lisboa, 1721 (2ª ed., 1731; 3ª e 4ª em 1740 e 1754).
São alguns dos maiores êxitos de Francisco da Fonseca Henriques, doutor em Medicina pela Universidade de Coimbra, nascido em Mirandela em 6.10.1665 e morrido(?) em Lisboa em 17.4.1731.
Personagem principal das notícias anteriores, era, até hoje, um desconhecido para mim, tal como, acredito, para muitos... e continuará a ser, enquanto não derem uma espreitadela neste blog!!
Foi um cientista erudito. Médico de D. João V, era conhecido por Dr. Mirandela! Porquê?
Será difícil de encontrar uma resposta sustentada... Escreveu variadas obras entre 1708 e 1721.
A qualidade do que criou era tal, que foram feitas várias reedições de dois ou três livros seus - pasme-se, no país iletrado e rabugento que eramos (e que somos!?). A pureza de linguagem é marcante, motivada, talvez, pelo profundo conhecimento do latim que detinha.
De notar ainda a obra, Aquilégio medicinal em que se dá notícia das águas de caldas, de fontes, rios, poços, lagoas e cisternas do reino de Portugal e dos Algarves... dignos de particular memória, Lisboa, 1726. Última obra, a servir de corolário a uma vida dedicada à ciência e erudição... Triste a natureza humana quando nos confinamos a uma coluna de uma qualquer enciclopédia, após uma vida de sacrifício!

12.20.2004

Limões azedos...refrescam muito e previnem a podridão!


A farmacologia galénica do século II a.C. estudava já a importância das vitaminas no cardápio alimentar dos humanos. Assim, graduava a qualidade dos alimentos - quentes, frios, húmidos e secos - procurando, desta forma, criar uma hierarquia dos manjares terrenos.
Esta doutrina manteve-se ao longo do tempo.
O nosso velho conhecido Fonseca Henriques, no afamado Âncora Medicinal de 1731, refere-se precisamente a esta classificação, da qual retiramos alguns excertos ilustrativos da ordem alimentar em voga na época.
Acreditamos que pouca gente faria caso disso, até porque o sustento era o pão! Mas...também... ninguém lê esta notícia e nem por isso deixo de a escrever!!
Portanto lá vai, em honra do eloquente e facundo Henriques!
os cogumelos são frios e secos;
o melão e o tomate, frios e húmidos, como as bananas;
as uvas, quentes e húmidas;
as nozes, quentes e secas, assim como a pimenta, o cravo, o gengibre, etc.
o sumo de limões azedos refresca muito e é contra a podridão (...)
O autor defende, ainda, a existência de alguns alimentos para a sustentação do Homem segundo a idade e a estação do ano. Como exemplo, vejamos o que diz em relação ao Inverno:
No Inverno que é frio e húmido, hão-de ser secos e quentes; não só por se contrariarem às qualidades hiemais, mas para gastar, ou temperar as muitas serosidades e fleumas de que os corpos abundam.

12.19.2004

Café com arte...

O café ajuda... na flatulência!

No mesmo ano de entrada do primeiro barco com café, em Portugal, vindo do Brasil, o dr. Francisco da Fonseca Henriques edita a sua Âncora Medicinal, conferindo a este caro e estranho líquido as qualidades terapêuticas naturais de uma bebida elitista...

O café... é quente e seco; tem muitas partes ténues e balsâmicas, e muitro sal volátil como se colhe do cheiro que exala, e do suco oleoso que de si lança, com o qual corrobora grandemente o estômago e cérebro; refera as obstruções das entranhas e útero; e por isso é eficacíssimo em provocar a purgação dos meses... ajuda a digestão de alimento; é útil nos males da cabeça; impede a temulência ou a modifica, porque reprime e abate os vapores do vinho e dos mais licores espirituosos; conforta a memória, alegra o ânimo; é remédio nas vertignes, nos estupores, paralisisas, apoplexias, nos sonos profundos, nas hidropisias, nos catarros, nas fluxões do estilicídio ao bofe, na gota artética, nos males dos olhos, dos ouvidos, nas palpitações do coração, nas hipocondrias e flatulências, nas cólicas de causa fria, nas quedas, nas supressões de urina, que é mui diurético...

Um café por favor!...

De 1731, datará o primeiro carregamento de café do Brasil para Portugal. De facto, a Gazeta de Lisboa Oriental n.º 4 de 25 de Janeiro, elogia a pureza do café encontrado no sertão do Maranhão...

Nos últimos navios que chegaram do Maranhão veio algum café, que se descobriu no sertão daquele Estado, ainda de melhor qualidade que o do Levante (...)

A descoberta de tão aromático e extravagante néctar em solo da coroa, não foi dado por esquecido. Em Julho de 31 já o governo de D. João V isentava de direitos, por 12 anos, a entrada no país de canela e café do Brasil. De prorrogação em prorrogação, o comércio foi-se estabelecendo. Em 1765 a Companhia Geral do Maranhão e Grão-Pará, braço económico do estado e tais paragens, transportava já 3.000 arrobas de café para a metrópole.

História de um projecto não iniciado

Quioske é um blog de tudo e mais alguma coisa.

Mistura conceitos, hábitos, realidades e anseios, com o objectivo de criar um espaço livre onde possamos escrever o que nos der na "REAL GANA", como diria um certo tipo, num determinado sítio, e que, pela expressão, só poderia ser de Coimbra...

Cá vai, mandai posta de pescada e bitaites em bom português.