12.21.2005

O Amor

Definir o amor, não é fácil: é pessoal e intransmissível.

Tudo o que é escrito, é redutor. Apenas simplifica o seu verdadeiro significado - algo sem chama - mesmo que nos faça corar ou lacrimejar, há medida que os olhos vão absorvendo os elos da mensagem.

Formalmente, a palavra Amor, tem vários significados, dos quais destacamos:

sentimento que predispõe a desejar o bem de alguém; sentimento de afecto ou extrema dedicação; apego; sentimento que nos impele para o objecto dos nossos desejos; atracção; paixão; inclinação; relação amorosa; aventura; adoração; veneração; sensação semelhante à provocada por droga; estado de embriaguez; prazer total; felicidade na presença do enamorado e tristeza na sua ausência...

- Bom, o que é então o amor!?

Será esse sentido de obsessão, essa dedicação cega pelo outro, compreensão total, paixão desenfreada, um charrito de vez em quando!?

- O que raio é o amor!?

Não sei.

Reduzir a palavra a todas aquelas significâncias de compreensão, respeito, carinho, é reduzí-la aos seus sinónimos, algo que é parcial e não completo.

Porém, definí-la como uma dor que aperta o coração e deixa marcas eternas é dizer que, quando se ama, esse sentimento é irrepetível.

- Então o amor será o quê, precisamente?
Talvez um contentamento descontente que só se sente no final da vida, uma espécie de infusão final que nos dá alento para enfrentar a morte... Então a palavra é para a vida ou para a morte, e que dizer dos que nem sequer pensam nisso, nunca amaram!?

Parece acertado pensarmos se amamos ou não quando no leito final, mas o que podemos fazer, aí, para remediar isso!? Nada, apenas constatar... Será o Amor tão malévolo que apenas o podemos consentir e nunca o concertar!?

Perguntas e mais perguntas fazem pensar no sentido da vida, mais do que no sentido do Amor, afinal, pelas várias significações, ela não é mais do que um sinónimo de vida, de impulso vital, quando constatado, quando sentido, quando diferenciado, quando inspirado, quando definido por dicionários, poemas, romances, frases, palavras...

Amor é Amor, sem significado simplista nem consciência de sentimento, é impulso biológico, impulso de luz, tal como a vida, é o sentimento na sua pureza natural, na sua essência mais espiritual, na sua faceta mais inocente e verdadeira.

12.16.2005

Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo...

Fernando Pessoa

12.14.2005

Pensamentos transviados

Não obstante a minha impertinente moléstia das hemorróides, que me embaraçou no passado responder à estimadíssima carta de vossas senhorias, e tem sido tão forte e continuada, que há mais de dez dias me não deixa sair de casa (...)

MANSILHA, João (frei). Correspondência avulsa à Companhia - 23 de Janeiro de 1771.

12.13.2005

Suspiro!

Sem tempo para grandes empreendimentos aplicáveis ao meio físico, resta-me pensar, e mesmo isso por vezes é conflituoso, pois a balança anseia equilibrio, e na falta do (re)confortante tempo a coça-los, ou a bebê-los, elevo o "prato" do mesmo na inocuidade, e lá vou enchendo o "prato" oposto, pensando, nem que seja só nisto.
Este "prato" (cheíssimo) passou a ser o do dia, mas de variedade imensa, sinto-me envelhecer, o tempo que disponho é maioritariamente a pensar preocupadamente e não despreocupadamente como antigamente, como no tempo do "que se foda", "hoje não vou", as variáveis preocupantes acumulam-se, e mesmo sendo de índole alegre e predominantemente "despreocupada", as preocupações potenciam o "g" na equação P=m.g.... foda-se
Faltam-me pessoas, As pessoas... mas eu não tenho receio, confiante de que emergirei sempre sob a aura da minha alegria e despreocupação, pois vale a pena, eu valho a pena para essas pessoas, e elas valem a pena para mim.
Aos meus amigos e irmãos... Ni!

Antes e Depois

Ao vasculhar velhos papéis, deparei com uma pequena relíquia que me pareceu mais contemporânea do que, à partida, pareceria.

É uma singela ficha de leitura sobre as origens da Revolução Francesa de 1789. Preconiza o contexto (entre 1787-1789) que terá levado ao enlace revolucionário, a nível financeiro, económico, social e político.

Apesar do risco de anacronismo, penso ser interessante reflectir sobre a efervescência da altura e sobre a que vivemos nos dias de hoje, uma sociedade mais civilizada, conformada e (des)interventiva, mas preocupada com o amanhã e em busca de novos ideais, à altura, solucionada com a bombarda ideológica – a Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Na segunda metade do século XVIII, em pleno cenário francês, sentia-se um clima de crispação generalizado, movido por um vazio de poder efectivo sobre os velhos levantadores de massas - a nobreza e o clero.

Estes, tinham grande relutância em ver os seus privilégios diminuídos pela imposição de novas contribuições à coroa. É que, há altura, falava-se na criação de impostos sobre a propriedade, posse exclusiva das elites.

A sociedade, dominada por corporações burguesas que exerciam pressão sobre a decisão real, pretendem tornar-se hegemónicas, numa corte nobilitada que, a todos o custo, tenta manter a sua posição monopolista conselheira, ao fazedor de leis.

Um novo mundo dá, agora, os primeiros passos: o latifúndio dá lugar à força do comércio e, nesse sentido, a burguesia, proveniente do Terceiro Estado, vê o seu poder justificado pelo apoio popular.

Os anos agrícolas, fracos, não respondem ao aumento do número de bocas a alimentar, levando à fome e ao desconforto e com isso, aumentando a instabilidade e debilitando a noção do poder como disposição divina.

Como contraponto, o atraso industrial e comercial em relação aos insulares, não permite a competitividade dos seus negociantes. No caso vinícola, o crescente comércio dos vinhos de embarque do Alto Douro, em Inglaterra, irá sobrepor-se aos líquidos franceses, em anos climatéricos difíceis para a pureza do néctar.

Os acordos com os Estados Unidos da América independente, no sentido de abrir os portos das Antilhas aos seus produtos e o Tratado de Édem com Inglaterra, veio piorar a situação, uma vez que o mercado transatlântico não se fidelizou aos produtos e o autóctone, viu-se a braços com uma inundação de artigos britânicos de melhor qualidade e preços mais competitivos.

As falências, o desemprego, os baixos salários levam à indignação popular, primeiro passo para extremarem-se posições. Da motivação à destruição é um passo e, no clima de conflitualidade que se vivia na época, as injustiças saltam à vista.

Cresce a contestação à intocável hierarquização desigual das ordens sociais, o poder, mal distribuído, é contestado, os poderes instituídos impedem a modernização, o regime feudal nos campos, impede a liberdade de plantio...

A Revolução Americana de 1775, era a inspiração e tida como uma lufada reformista aos conspiradores que viam no Antigo Regime e no absolutismo, um entrave ao avanço comercial, científico e cultural do país, bem como ao acesso ao poder a que aspiravam.

A massa popular jovem, mais interventiva, via-se desempregada e revoltada com a inércia social que não entendiam. Foram precisamente elas as manipuladas para levar a revolução a bom termo. R.Rémond, designa-as como os motores da revolução.

Por seu turno, a carcaça autoritária, preocupada em manter o poder a todo o custo, repele os intentos renovadores, aumentando, assim, a instabilidade e gerando hostilidade.
Luís XVI joga pelo seguro, colocando-se fatalmente, ao lado da nobreza... Irá custar-lhe a cabeça...

Gira e torna a girar a vã estória dos nossos actos!

12.12.2005

Delicatessen!

Nice Legs

Machadadas democráticas

Em visões televisivas dominicais, fiquei a saber que o canal do Estado apoia dois candidatos à Presidência da República.
Um, com maior projecção, martela na esquerda, tentando dividir votos pelos 4 magníficos e, com isso, mantendo uma confortável vantagem do salvador em relação aos demais.
Outro, às segundas, trina baixinho em favor do ancião, chamando a si votos dos indecisos da esquerda e, com isso, tentando uma segunda volta difícil de acontecer... é que os portugueses ainda não se livraram do síndroma sebastianista!
Assim sim, há imparcialidade no canal público, é só escolher os comentadores correctos...
Mais a mais, que dizer dos outros candidatos renegados pelos media!? Verdadeira machadada democrática, isso sim!

12.07.2005

Bojardas!

Ontem, em audições radiofónicas, sintonizei a Prova Oral, na Antena 3. Programa sobre blogs, especialmente sobre mais um que publicou.

Aproveito este nosso cantinho recôndito para bojardar algumas considerações existenciais que me assomaram naquele momento.

Antes de mais, é de bom agoiro a profusão de livros tendo por base as inúmeras arestas existentes, parece-me ser sintomático de uma lufada de ar fresco na poeirenta papelada que começava a cair em desuso.

Nova interessante e pertinente, também, o facto destes formatos estarem na moda e de já prognosticarem o seu fim... é que no início do século XX fez-se o mesmo em relação à arte e ela aí está, a clamar por atenção.

Porém, nem tudo são rosas... Pseudo-intelectualóides alternativos [obrigado Gaja Boa pela dica] dizem que não têm tempo para ler outros blogs da pseudo-comunidade. Manifestam a sua falta de disponibilidade para se divertirem ao ler um ou de reflectirem ao passar os olhos por outro... É triste a realidade desses que não têm tempo para, sequer, navegar dois minutos por outros locais onde nunca passaram e onde sabem que não voltarão!

Será que esses ditos pseudo têm tempo para respirar, é que quem escreve por cá e não visita outros similares ou divergentes, não deve ter tempo sequer para os lavar no bidé (ou bidet?)!

E que dizer daquela mania imberbe dos que pretendem ser, pela publicação de uma resma, escritores? Será que nunca provaram canja de galinha!? Será que ainda não perceberam que, para se ser escritor, precisam de consultar o dicionário da língua portuguesa!? Será que têm a veleidade de se auto-carimbar sem referências!? E que dizer do sentimento dilacerante de, ao ler os verdadeiros, perceberem que nunca conseguirão escrever assim!? Não lhes dói ou não sentem o toque!? São insensíveis à dor!? E consciência, existe!? E pudor, sabem o que é!?

Isto tudo para dizer que tem sido por aí publicada muita barbaridade, numa política pouco qualitativa de edição, que me parece enganosa e capaz de desacreditar o livro como espaço de boa escrita - literária ou não.

O descrédito é geral, mantém a venda dos clássicos, é certo, mas coloca os novatos promissores, numa posição inglória (essa mesmo!?) pelo mediatismo e pela sobrevivência literária...

Que sirva a quem de direito, porque isto de bojardar é para quem quer, não para quem pode!

12.02.2005

Olhos matinais

Em plena padaria, pela manhã, a tomar o pequeno almoço ensimesmado na minha meia de leite, começo a aperceber-me da existência de sussurros e murmúrios à minha volta.

Os ouvidos, como que fechados ao som exterior, começam a adaptar-se à azáfama que percorre o exíguo espaço.

"Aaaaaaí! Eu vi logo que era o meu bruninho!! Eu disse para comigo, aquele é o meu bruninho!!! Aí que lindo que ele está!!! É o meu bruninho!!!! Dá cá um beijinho bruninho!!!"

Salto a pensar que a senhora se preparava para lambuzar a cara do coitado do rapaz que as estava a servir.

Os dentes amarelecidos por resmas de cigarros que trincou, o fumo cuspido enquanto fala, a subir pelas narinas, dá-lhe um ar dragonesco. Do outro lado, um cheiro acre a perfume bolorento, faz-me notar na cabeleira loira da senhora que toma o seu galão, ondulante e, concerteza, habitada por aqueles pequenos e estranhos homenzinhos de chapéu bicudo vermelho!

Em frente, um sujeito de bigodaça proeminente, começava já a puxar do maço, pronto para me atafulhar de fumo logo pela manhã...


Fujo, fujo como se não houvesse amanhã! (Mas paguei a conta!)

Há dias que começam mal, ou então, vemos o mesmo cenário com outros olhos, todas as manhãs...