2.28.2007

...

E digo-vos que a vida é de facto obscuridade
Excepto onde há arrebatamento,
E todo o arrebatamento é cego excepto onde há saber,
E todo o saber é vão excepto onde há trabalho
E todo o trabalho é vazio excepto onde há amor.

E o que é trabalhar com amor?
É pôr em todas as coisas que fazeis
Um sopre do vosso espírito.

Khalil Gibran

2.21.2007

espaços suspensos

Espaços!

Espaços reais, visíveis, são todos aqueles que a retina alcança.

Todos os outros, aqueles que nunca revelámos também o são. Aliás, são-no ainda com mais força, nunca visualizados e por vezes incompreendidos, são abstracções formadas por conceitos vagos que se vão transfigurando num universo sensível ao toque e ao pensamento.

Livres são esses hologramas.

Verídicos!? Com certeza ou sem ela existem pela qualidade real que encerram e pelas infindas possibilidades de montagem que propiciam. Ora fixos, ora amovíveis, são estas as verdadeiras celas que nos encerram, que nos enclausuram.

Sem darmos por isso absorvem o intelecto para dele sobreviverem. Os espaços ilusórios são assim, parasitas insaciáveis que se alimentam do olhar para acrescentarem mais uma vida ao espaço suspenso. Deixam-nos vegetar no leito X da camarata global.

São imperativos e autoritários, escorregadios e incompreensíveis, desconhecidos e irreconhecíveis. Bebem do real para crescer até ao infinito.

Dão-nos a volta. Fazem de nós o que querem. Às vezes dão-nos pistas da sua existência mas logo as apagam para que o seu crescimento seja contínuo e imparável.

Propiciam-nos uma visão a cores da existência para a consideramos autêntica, una, mas constantemente mutável pela sua força.

Espaços e qualidades provadas deixam de ser as que conseguimos compreender, passam a ser virtuais, ilusórias.

Sofrónia, nome irreal que me parece ter sido um dos que alguma vez foi mencionado, deixa pensar, reflectir, julgar, avaliar, mas desaparece mal prenunciam o seu nome.

2.02.2007

"O acto sexual é para ter filhos" dizia o Morgado...

Já que o coito - diz Morgado -
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou - parca ração! -
uma vez. E se a função
faz o órgão - diz o ditado -
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.


Natália Correia - 3 de Abril de 1982