7.21.2011

libralhada da boa

Terminei o "Último Cabalista de Lisboa". Foi só à segunda que o acabei, depois de perder um exemplar autografado no comboio para o Porto (que mil sodomitas esconjurem diariamente o tipo que me levou o livro!).
De facto, o livro é brutal! A partir de um escrito de quinhentos da autoria de Berequias Zarco, Zimler traz-nos à memória a barbárie cristã que foi assolando os séculos da sua hegemonia europeia.
Os relatos dos massacres de Lisboa e da vida do povo urbano de então, são reveladores de uma sociedade impreparada para a diferença e em busca de um bode expiatório para a sua rusticidade.
De facto esta ideia já me havia assolado quando li a “Crónica de Almançor” por António Saldanha, um calhamaço impensável que relata a vida de um cativo-livre em Marrocos durante quinhentos-seiscentos.
Também me veio à memória um estudo que fiz há alguns anos sobre os "Processados nas Inquisições de Coimbra, Évora e Lisboa", com discriminação do número de judeus considerados culpados nos processos da inquisição.
Na altura analisei apenas os inquiridos do Nordeste Trasmontano (equivalente ao distrito de Bragança) entre 1541 e 1755 (apurado a partir do Inventário dos Processos da Inquisição de Coimbra, entre 1541 e 1755 e das listas das Inquisições de Évora e Lisboa, apresentadas por Francisco Manuel Alves, na sua obra, Os Judeus no Distrito de Bragança, t. V das Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, entre 1551 e 1755, estas, contudo, não exaustivas para o período em causa, elaboradas a partir da Colecção Moreira, da Biblioteca Nacional).
Quando terminei a análise quantitativa dos dados, lembro-me de ter pensado que a indústria das sedas e dos curtumes (a que se dedicavam parte dos judeus de Trás-os-Montes), hoje inexistentes, poderiam ter sido uma alavanca importante para colocar o nordeste no mapa económico português e que o êxodo em massa motivado pelos cerca de cinco mil inquiridos, foi um dos factores do marasmo em que ainda hoje vive o interior norte.
Revejo o Último Cabalista de Lisboa como um retrato do que fomos, reflectindo um país tacanho e rude, que nos trouxe até aqui.
Mas seremos diferentes!? Estaremos imunes ao poder da massa!? Pegaríamos hoje em machados, foices e martelos e faríamos os mesmos massacres de outrora!?
Penso que não, o poder do sofá é grande, mas a nossa língua comprida continua a culpar outros pela falta da chuva, pelo empréstimo chorudo que fazemos, pelo trabalho que nos dão, pelo abuso que é deixarmos as fronteiras livres a quem connosco quer partilhar a vida.
Pelos vistos continuamos tacanhos, rudes, brutais como outrora, mas com o rabo almofadado pelo feitiço da novela, do cochicho, da maledicência que ao português tão bem sabe.
Afinal, poderá não ser um livro sobre quinhentos, mas um retrato actual do Nós interior, pessoal e inominável, escondido apenas para não levantar suspeita.

7.04.2011

Leão, o Africano



Numa pujante auto-biografia possível, Amin Maalouf recria o imaginário do mundo árabe de seiscentos, num breve tratado de história diplomática euro-magrebina, levando-nos a viajar com Hassan al-Wazzan entre Granada, Fez, Cairo, Roma e outras tantas.
De realçar as passagens fantásticas sobre costumes muçulmanos e vida nas cidades, bem como sobre a centralidade do corão nas sociedades do mundo árabe.

Não sendo uma obra-prima da literatura é muito bem escrito, com apontamentos históricos muito bons, em suma, um livro muito porreiro.