3.25.2013

crítica da razão ausente

Acabo de passar os olhos pelo "Crítica da razão ausente" de António Manuel Baptista (AMB). Um livro de 2002 na continuidade da guerra aberta a Boaventura Sousa Santos (BSS). Há altura designada por guerra da ciência, é uma obra divertida de ler por ser uma crítica a BSS no seu "Um discurso sobre as ciências". Na crítica algo feroz ao entendimento que BSS faz de ciência, parece-me mais um manifesto contra a politização do discurso científico (apesar do próprio AMB ser acusado disso mesmo, numa ótica do toma-lá-com-o-que-me-acusas-para-ver-se-gostas).
Tal como no jornalismo em que o discurso é deturpado com objetivos algo dissimulados, também na obra de BSS AMB vê motivações obscuras para a sua produção. Carlos Magno, Prado Coelho, Vasco Graça Moura, são alguns exemplos ao estilo BSS que, ainda que noutras áreas, vão impregnando o leitor de termos complexos e algo dúbios, cheios de salamaleques, para irem cravando ora o cravo (claro) ora a ferradura.
Ainda que com provas dadas, é particularmente irritante essa vontade constante de criticar, para logo agradar, mantendo-se nas boas graças do rotativismo vigente.
Lembro-me, de facto, quando estudava, de ouvir falar do livro de BSS, sempre num tom algo seminal, mas, pela densidade das citações e da terminologia arrevesada, nunca passei da capa. Hoje, passei os olhos sobre o seu pequeno livro. Aliás, acho que é o mais curto calhamaço que li...
Na altura, talvez o reduzido tamanho do livro de BSS tenha-me chamado à atenção. Hoje, ensonou-me.
Interessam-me as questões do comportamento da ciência, das redes de criação científica, da forma como se mapeia o conhecimento, mas, por favor, não me chamem para teorizações do estilo todo-o-conhecimento-científico-natural-é-científico-social ou todo-o-conhecimento-é-auto-conhecimento.
Sinceramente, deixa-me com muito sono. Já o seu contrário, a crítica cáustica, essa é sempre bem-vinda.