Depois deste interregno de vários meses, não por
falta de tempo (como alguns sempre defendem) mas por falta de vontade (mais
vale a verdade do que um nariz comprido), sugiro um livro que resultou de um
trabalho magnífico de Gustavo Sampaio: Os Privilegiados, uma edição de A Esfera
dos Livros lançado em julho de 2013.
A partir de um trabalho verdadeiramente notável
de pesquisa, Gustavo Sampaio faz uma súmula de "como os políticos e
ex-políticos gerem interesses, movem influências e beneficiam de direitos
adquiridos".
Enjoativo porque, página após página, relata-nos
resultados de uma análise profunda dos meandros de potenciais
incompatibilidades entre o interesse público e privado de deputados, autarcas,
afiliados e outros coladores de cartazes. De revoltar o estômago dos mais
resistentes.
É avassalador a quantidade de dúvidas que assolam
o leitor à medida que vai folheando (ou desfolhando) "Os
Privilegiados".
"Os políticos são todos iguais!" cita o
autor, no início do livro, para logo rotular esse já ditado popular de
"falácia circular que condiciona o pensamento e bloqueia a
conversação". Não podia concordar mais.
Contudo, depois de terminar este interessante
livro, tendo a verborreá-lo, Gustavo.
É que trabalhos de consultoria por deputados em
empresas cuja área de negócio é sensível à comissão parlamentar em que esse
mesmo deputado exerce funções (não devo ter sido muito claro, mas o autor é);
aumentos excessivos de contratos públicos por ajuste direto, consoante o
governo em funções; listas intermináveis de ex-políticos membros de órgãos
sociais das principais empresas cotadas no PSI 20; subvencivos (ex-deputados)
ad aeternum (paradigmático o exercício exemplar de funções do Relvas [sim,
também aparece por cá, não raras vezes]); centenas de autarcas reformados
embora em exercício de funções; um Presidente que se diz incapaz de fazer face
às despesas com uma reforma de 1.300€, recebendo, de facto 10.000€ (por mês);
acumulações de vencimentos e reformas no Governo Regional da Madeira; os mais
de 5.000€ que cada deputado, de facto, aufere (em despesas de representação, ajudas
de custo e mais outras ajudas para fazer cenas); os aumentos de 81 euros
mensais no rendimento dos políticos (sim, quando se introduziram cortes nos
subsídios de férias e de natal); a contratação de boys sem a mínima experiência
na área para vogais, presidentes e outros cargos; a contratação de dois miúdos
de 21 e 22 anos respetivamente para as funções de técnicos especialistas para
acompanhamento das medidas do memorando da troika (ambos com única experiência
profissional 1 estágio de 6 meses/cada); entre muitas, muitas outras, não
poderei de citar a sábia vox populi (hoje estou muito pró-latim) "os
políticos são todos iguais!".
Há uns mais iguais do que outros, claro, mas
porra, é uma corja dum camandro!