12.13.2005

Antes e Depois

Ao vasculhar velhos papéis, deparei com uma pequena relíquia que me pareceu mais contemporânea do que, à partida, pareceria.

É uma singela ficha de leitura sobre as origens da Revolução Francesa de 1789. Preconiza o contexto (entre 1787-1789) que terá levado ao enlace revolucionário, a nível financeiro, económico, social e político.

Apesar do risco de anacronismo, penso ser interessante reflectir sobre a efervescência da altura e sobre a que vivemos nos dias de hoje, uma sociedade mais civilizada, conformada e (des)interventiva, mas preocupada com o amanhã e em busca de novos ideais, à altura, solucionada com a bombarda ideológica – a Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Na segunda metade do século XVIII, em pleno cenário francês, sentia-se um clima de crispação generalizado, movido por um vazio de poder efectivo sobre os velhos levantadores de massas - a nobreza e o clero.

Estes, tinham grande relutância em ver os seus privilégios diminuídos pela imposição de novas contribuições à coroa. É que, há altura, falava-se na criação de impostos sobre a propriedade, posse exclusiva das elites.

A sociedade, dominada por corporações burguesas que exerciam pressão sobre a decisão real, pretendem tornar-se hegemónicas, numa corte nobilitada que, a todos o custo, tenta manter a sua posição monopolista conselheira, ao fazedor de leis.

Um novo mundo dá, agora, os primeiros passos: o latifúndio dá lugar à força do comércio e, nesse sentido, a burguesia, proveniente do Terceiro Estado, vê o seu poder justificado pelo apoio popular.

Os anos agrícolas, fracos, não respondem ao aumento do número de bocas a alimentar, levando à fome e ao desconforto e com isso, aumentando a instabilidade e debilitando a noção do poder como disposição divina.

Como contraponto, o atraso industrial e comercial em relação aos insulares, não permite a competitividade dos seus negociantes. No caso vinícola, o crescente comércio dos vinhos de embarque do Alto Douro, em Inglaterra, irá sobrepor-se aos líquidos franceses, em anos climatéricos difíceis para a pureza do néctar.

Os acordos com os Estados Unidos da América independente, no sentido de abrir os portos das Antilhas aos seus produtos e o Tratado de Édem com Inglaterra, veio piorar a situação, uma vez que o mercado transatlântico não se fidelizou aos produtos e o autóctone, viu-se a braços com uma inundação de artigos britânicos de melhor qualidade e preços mais competitivos.

As falências, o desemprego, os baixos salários levam à indignação popular, primeiro passo para extremarem-se posições. Da motivação à destruição é um passo e, no clima de conflitualidade que se vivia na época, as injustiças saltam à vista.

Cresce a contestação à intocável hierarquização desigual das ordens sociais, o poder, mal distribuído, é contestado, os poderes instituídos impedem a modernização, o regime feudal nos campos, impede a liberdade de plantio...

A Revolução Americana de 1775, era a inspiração e tida como uma lufada reformista aos conspiradores que viam no Antigo Regime e no absolutismo, um entrave ao avanço comercial, científico e cultural do país, bem como ao acesso ao poder a que aspiravam.

A massa popular jovem, mais interventiva, via-se desempregada e revoltada com a inércia social que não entendiam. Foram precisamente elas as manipuladas para levar a revolução a bom termo. R.Rémond, designa-as como os motores da revolução.

Por seu turno, a carcaça autoritária, preocupada em manter o poder a todo o custo, repele os intentos renovadores, aumentando, assim, a instabilidade e gerando hostilidade.
Luís XVI joga pelo seguro, colocando-se fatalmente, ao lado da nobreza... Irá custar-lhe a cabeça...

Gira e torna a girar a vã estória dos nossos actos!

2 comentários:

Periférico disse...

A história repete-se?;-)

Um abraço

Miguel de Terceleiros disse...

A história é cíclica mas isso já nos sabemos há muito tempo.
Cabe-nos a nós espernear, saltar, gritar e tentar mudar as coisas.
Somos nós a força de elite, a swat que pode dar um chuto nesta merda toda!