A edição de Maio da National Geographic Portugal dedica uma meia duzia de páginas às questões dos distúrbios do sono e outras maleitas relacionadas.
Apesar de interessante, chamou-me à atenção uma caixa de texto algo do género:
"Após 24 horas sem dormir, a capacidade e rapidez de resposta a problemas, será semelhante à da ingestão, numa hora, de três copos de whisky"
Alguns dirão que isso é brincadeira de crianças, 3 a 5 copos por hora seria o normal de uma noitada de copos encharcada e se ainda por cima levar com gelo na coisa, não há que temer... mas e se o tipo trata gente e está ao serviço!?
Sobre os efeitos da falta de sono na classe médica, o artigo refere ainda os problemas relacionados, concluindo que (se bem me lembro) 20% dos respondentes da amostra (indivíduos em internato médico) admitiram que isso poderá ter tido repercussões na morte de um paciente...
Bom, que dizer dos turnos brutais que médicos e enfermeiros teimam em fazer nos hospitais portugueses? Bom para a carteira, bom quando não há que fazer e dá para uma soneca, mas e o tipo que chega partido às urgências, será que vai ter alguém apto para o remendar?
Na minha opinião, claramente, não.
24 horas de trabalho ininterrupto dará para ganhar uns trocos extra ao final do mês, mas em profissões em que recai a responsabilidade de manter a corda a bambolear sem partir, parece-me criminosa a manutenção deste sistema que, aliás, é usual por todo o mundo.
Então, qual a utilidade em manter o sistema? Parece-me que a utilidade amplamente responde aos interesses de todos:
. médicos e enfermeiros ganham trocos acrescidos e ainda podem dormitar entre emergências;
. administrações deixam de contratar mais gente para suprir falhas de pessoal deixando de gastar em segurança social e mais a catrefada de treta que paga por contratar;
. ordens e associações vêem alguns dos seus membros satisfeitos;
. o ministério deixa de gastar mais algum com financiamentos inusitados no poço da saúde e a diluir os prejuízos com a má prestação de cuidados na relação custo-benefício em saúde.
O único que perde é o tipo que poderá precisar de cuidados, mas esse, não conta nada, depois de uma queda e de umas quantas escoriações, um anestésico qualquer acalmará os berros para que o pessoal possa pôr o sono em dia e se não houver nenhuma pilula mágica, nada como 3 copos de whisky para lhe aclarar as ideias... mas sem gelo!
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