8.17.2011

a janela de Melinda

Melinda é um olhar que reflecte, é uma janela de si.

Não é humana, é um espelho à procura do seu reflexo, uma imagem sem modelo, uma fantasia sem forma, uma máscara que espera ser deposta.

Melinda é poesia. Mas não daquela bacoca, rimante, que resulta num tosco sopro de escrita, Melinda é poema grego, é escrita criadora do pensamento e da sublime razão.

É um rabisco singelo de mão treinada, é o minimal outrora elaborado.

Como para todos, também para Melinda a peste emocional lhe tocou, dando corda no mecanismo universal das marionetas que somos.

Liberta-te Melinda, livra-te da peste emocional, diria Reich. Deita-te Melinda, adormece e acorda, eu dar-te-ei vida, diria Chikamatsu.

Espreguiça-se Melinda do seu sono de ilusão e, nessa altura, o calafrio que percorre o corpo à procura do fio vital acorda-a, de rompante.

Num clarão vislumbra a liberdade, tropeça, cai, sorri, levanta-se, corre escada acima para o seu refúgio.

Recua Melinda, tropeça e cai outra vez, depois chora o que tens a chorar, dói, não dói?Agora levanta-te, corre escada acima, recompõe-te e volta a sair. Passa pelas mesmas escadas, poderás tropeçar outra vez. Se assim for, volta a chorar, a subir e depois a sair. A liberdade está na rua, à tua espera e sem ti não será a mesma.

Liberta-te da forma, da ideia, da convenção, da humanidade, da carapaça, do passado, da lembrança.

Liberta-te do presente, paira por entre os comuns, és energia aprisionada. És energia aprisionada...

Melinda flui, sobe as escadas e não tropeça, entra no seu antigo esconderijo e respira. O ar é menos rarefeito, a vida transborda no agora covil de predador.

Uiva agora Melinda, o luar lá fora é teu.

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