"Recomendo-o sem qualquer tipo de reserva" lê-se em blogs e comentários de quem, como o quioske, rumina literatura de vez em quando.
O livro "Quando Lisboa Tremeu" de Domingos Amaral é bom exemplo de leitura de Verão, despreocupada. Porém, não me convence.
Não que eu tenha os pruridos intelectuais de uma decadente elite literária portuguesa. Nem que considere o romance histórico uma novela barata da TVI. Na realidade gosto muito do género e, quando com qualidade, é uma excelente forma de exercitar o desprendimento temporal e de contexto.
De facto, o livro apresenta bom enredo, boa articulação das personagens e uma envolvência algo aliciante de desespero, morte e sexo, sempre ao bom gosto "sangue, pão e circo" de que todos gostam.
A obra em torno do terramoto de Lisboa de 1755 e dos dias que o sucederam é uma obra algo interessante, com um final razoavelmente bom, mas, quanto a mim, mal construído.
Na realidade, apresenta-se repetitivo (talhava-lhe 5 ou 6 cadernos) na catadupa de eventos em torno de dois fugitivos do Limoeiro, de um rapaz órfão e de uma freira algo devassa condenada à fogueira. Apresenta alguns factos secundários interessantes, caracterizadores da época, mas a circularidade da ligação entre personagens, a limitação do espaço (a cidade de Lisboa) e a continuada repetição das descrições, tornam o livro maçador, como se estivéssemos a ler o mesmo vezes sem conta.
O final, relativamente inesperado, apesar de clássico, difere-o de romances históricos francamente fracos que já comentamos (p.e. A Estratégia do Bobo), mas não deixa de ser exagerada a reiterada repetição, como se, à falta de dados novos, fossem necessários exercícios gramaticais para prolongar o que já foi dito, páginas atrás.
Vale o preço que apresenta na edição de bolso, não é mau, mas a força do título merecia igual força do miolo.
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