1.12.2006

O espírito renascentista

O Renascimento dá início à época moderna. A sua vigência e propagação pela Europa, fundamenta-se em dois aspectos fundamentais que importa, agora, ter em consideração.

Por um lado o espírito fervoroso que caracterizou a vida medieval até então, entra em declínio. O humanismo e os valores profanos surgem, agora, ao contrário do que acontecia no passado, como valores inegáveis do intelectual moderno, motivado por um quadro geral de restauração da cultura greco-romana em ruptura com a Idade Média. Tudo o que é humano passa a ser tido em conta e, até, em certos literatos, concebido como o cerne da existência, tal como defende Pico della Mirandola em A dignidade do Homem de 1487: "nada é mais admirável do que o Homem".

Por outro lado, em contraste com o sacerdotalismo medieval, assiste-se à afirmação da supremacia do poder civil sobre as autoridades religiosas e ao fortalecimento do poder real, abrindo portas ao absolutismo que, mais tarde, será apanágio das monarquias europeias. Em Portugal, D. João II (o príncipe perfeito) encarna o reforço do poder real e o desprendimento de limites morais.

Noutro plano, mas não de menor importância, inicia-se a saga dos Descobrimentos, tarefa de cunho universal e planetário, em que os portugueses desempenham papel primordial. Com as descobertas, vêm os progressos das técnicas e da mentalidade científica: a cartografia, a ciência náutica, a astronomia, as ciências naturais e, com eles, mudanças profundas a nível cultural, económico e social.

Surge, então, o capitalismo moderno, o início do processo de globalização do comércio, com novos produtos e novos mercados, deixando de ser limitar à Europa e, por isso, requerendo outras iniciativas de âmbito nacional tendentes à protecção da manufactura interna, reforçando, desse modo, o poder centralizado.

Será esta ambiência de mudança e valorativa do Homem, que levará à reforma protestante e à resposta católica com a Contra-reforma, acontecimento que conduzirá, de novo, a civilização ocidental para o culto do divino em detrimento da relevância humana.

É um mundo em mudança que surge por volta de 1400, é uma sociedade mais distante do medievalismo rural e mais próximo do modernismo comercial. Para isso, contribuiu esta teia de factos e vontades rompendo com o passado próximo e consolidando as formulações do passado longínquo.

Como refere Cabral de Moncada, "depois da Grécia e depois do Cristianismo, nenhuma outra revolução na história do espírito europeu teve até hoje consequências tão transcendentes como o Renascimento". (Filosofia do Direito e do Estado, p. 94).
adaptado de AMARAL, Diogo Freitas do (1999).
História das Ideias Políticas.
v.I. Coimbra: Almedina, 193-195.

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