7.31.2012

Coisas de ler

Depois de sucessivos adiamentos lá terminou "Baudolino". Começa a ser recorrente a leitura amputada para mais tarde terminar, mais amansado da agrura das palavras.
Não que não seja uma escrita fluente e com enredo interessante, mas o anúncio, à partida, de mais um Fernão Mendes Pinto, havia-me desinteressado do enredo.
É, na realidade, mais um livro de fôlego de Umberto Eco pontilhado por um rigor histórico que vaticina, para quem aprecia a carga mística do espaço mental medieval, uma real compreensão das questões estéticas e espirituais que rodeiam o pensamento e os atos do homem do séc. XII.
Amplamente imbuído de uma religiosidade e de uma conceção do mundo como resultado do pecado original, não esquecendo o complexo jogo geopolítico que caracterizou o período do império de Frederico I, a obra reflete um profundo conhecimento do bestiário e pensamento medieval, mediado entre um deus aurifico e um mundo de seres lendários que povoam o mundo desconhecido.
Aprecie-se especialmente, quanto a mim, as questões do surgimento das primeiras universidades, dos jogos de poder político-religioso entre Frederico I e Alexandre III, do pensamento teocrático medieval, da conceção do mundo paralelo de bestas indizíveis, dos jogos de poder do império bizantino, do culto das relíquias (e produção) e, pérola improvável, das questões do retomar do pensamento clássico hipaciano, preconizador do pensamento renascentista que séculos depois ir-se-á impor.
Destaco a requalificação que Umberto Eco faz da "Casa Dourada de Samarcanda" imortalizado por Hugo Pratt, prisioneiros míticos de Aloadin que aqui surgem magníficos.
Bom livro para quem aprecia alguma densidade do pensamento pantocratico do contexto medieval.