1.25.2013

A casa de papel

Movendo-se no universo de A Biblioteca de Babel e do Cemitério dos livros esquecidos, o pequeno livro, entre o romance e o conto, de Carlos María Dominguez, é delicioso.
Com enredo muito interessante, desenvolve-se em torno de um esquecido, viajado e cimentado livro.
Deixa perceber uma técnica algo erudita, mesclada com o toque sensual do castelhano sul-americano.
Receita:
Servir Casa de Papel com clericot.

1.10.2013

um deus passeando pela brisa da tarde

Ainda com a nostalgia que os bons livros nos deixam, mal os terminamos e, por isso, com a história à flor da pele, não posso deixar em claro a agilidade com que foi escrito e a clareza do enredo, fundamentado nos primórdios do paleocristianismo no contexto da lusitânia romanizada de finais de ocupação.
É um livro delicioso que justifica a quantidades de reedições já impressas (tenho notícia de pelo menos 12).
Ladeado entre os ritos da vida privada e o direito romano, descreve magistralmente o quotidiano e a estratificação social clássica, deixando antever os primeiros passos de uma seita que, séculos depois, se tornará dominante.
Romance histórico muito bem escrito em estilo autobiográfico (do dúunviro Lúcio Valério). A aparente desilusão de, na abertura, referir que "nunca existiu", dificulta a leitura dos primeiros parágrafos, que logo é secundada pela impressionante articulação das várias componentes da história.
Mário de Carvalho mostra como, a partir de uma boa fundamentação do contexto e com escrita clara e liminar, pode ser tão gratificante a leitura.
Uma composição da editora Caminho que, como já me havia habituado, não prima pela excelência do design, mas pela qualidade da escolha editorial.

1.02.2013

e mais coisas de ler

Ao contrário da capa da mini-série de Joaquim Leitão, a encadernação do "Até amanhã, camaradas" é algo insipida, bem diferente do miolo cativante que reveste.

Do editorial Avante, que sempre nos chama para o vermelho vivo doutrinal, apresenta composição gráfica de uma sobriedade tocante dando, até, certo corpo ao enredo que num fôlego se folheia.

É um livro austero. Sem querer ser um instrumento de propaganda, não deixa de a fazer, numa ambiência de permanente conluio anti-fascista que nos trouxe até aqui.

Aprecie-se, por entre a trama inquietante dos homens sem nome, tanto as descrições da sociabilidade rural e simples da populaça, quanto os apontamentos místicos que envolvem as personagens revolucionárias.

Para quem, como eu, não viveu esse tempo, fica um retrato muito interessante do país que me gerou, não só pobre e comezinho, mas também lutador diário, ora por batatas, ora por ideais.