12.26.2011

o monstro da ciência - tipos de documentos científicos






A publicação de ciência é o veículo para a partilha e validação do conhecimento produzido. Como referia Merton em 68 na Science: "for the development of science, only work that is effectively perceived and utilized by other scientists, then and there, matters".

Assim, os suportes de ciência apresentam-se como vitais para a difusão da informação aos pares assumindo 3 dimensões genéricas que Garfield em 1955 sistematizou: o livro - macro unidade (compilador de conhecimento), o artigo - micro unidade (produtor de ciência) e o índice - nano unidade (referenciador de conhecimento).

Dedicar-nos-emos apenas aos tipos de documentos micro, as unidades que, grosso modo, (re)criam novos formatos, comprovam ou desmentem paradigmas, que impelem o conhecimento a evoluir e deixando de lado as largas dezenas de formatos de publicação que os Subject Headings ou Thesaurus indicam.

De facto, o termo journal articles (original research, scientific letters, notes, reports, conference papers e reviews) resume os tipos de documentos científicos possíveis e que, não sendo exclusivos, em post posterior, iremos sistematizar.

Existem, de forma genérica, três tipos principais de artigos:

- investigação original, publicada em primeira mão em revistas de referência para a área científica ou em sites de especialidade e que apresentam formatação diversa, desde experimentação laboratorial, testes clínicos, estudos metodológicos, resultados de conferências, etc.;

- estudos integrativos, baseados no conhecimento já produzido e sistematizando conceitos ou revendo o conhecimento teórico já produzido, como são exemplos as revisões sistemáticas ou as guidelines;

- outros tipos de artigos, resultam de dados emanados da leitura e análise dos dois tipos anteriores ou de casos sistematizadores da prática e resultam em comentários, casos de estudo, editoriais ou cartas ao editor.

Por norma os tipos de documentos respondem a uma de três necessidades: explicar novos conhecimento, compilar conhecimento produzido ou comentar resultados anteriores.

Pretende-se responder à máxima de Merton partilhando conhecimento, mas, na realidade, fundamenta-se em factores bem mais complexos e a que me dedicarei em post autónomo.


12.21.2011

sombras de um vento catalão






Acabei, há dias, o refrescante livro de Ruiz Zafón, "A sombra do vento". Entre mistérios e cenas de género, correm páginas sem se dar por isso, num enredo entusiasmante que nos transporta para Barcelona dos anos 40-50.

Sem mácula, a mancha é agradável e a tradução de qualidade, deixando perceber, entre as palavras, a sonoridade catalã que lhe está no sangue.

Apesar de algumas soluções maneirinhas para a conclusão do livro, mantém sempre a coerência da história e uma lógica de facto-consequência que justifica os milhões de exemplares já vendidos.

O início da narrativa é francamente bom e a história desenrola-se num ciclo de vida que, no final, se torna evidente, num discurso divertido e consistente que dá vida às personagens que povoam o livro e salpicando os actores com uma fantasia latina entre a estiva húmida caribenha e a orvalhada glacial ibérica.

Boa escolha para as noites frias de Inverno.

12.14.2011

entre bispos, frades e heresias

Li há algumas semanas "A Estratégia do Bobo", um livro perdido de Serge Lentz, autor algo conhecido na França na década de 80 e que a Círculo de Leitores publicou há alguns anos.

A história passasse na Europa Piccolominesca da pré-reforma protestante, deambulando entre a devassidão humana que caracteriza as suas construções.

No coração da igreja católica de meados do século XV conta a história da ascensão-queda-ascensão de um jovem bispo e da visão libertária de um vivido frade, movedora de hordas populares.

O enredo é motivador e as personagens vivas e interessantes, caracterizando de forma entusiasmada a época e a populaça que a habita.

Não deixando de lado o formato circular do romance histórico, à medida que se aproxima do fim vai deixando transparecer a incapacidade da história evoluir, deixando à deriva algumas páginas e fazendo perceber um final decepcionante.

A qualidade do conteúdo que até aí o vai caracterizando, apesar de algumas incongruências, é debelado por um final previsível reflectindo a incapacidade do autor em perceber qual o caminho próprio que a história estava a percorrer.

De toda a forma, esquecendo as últimas 20 páginas, vale a pena dar-lhe uma vista de olhos.



11.21.2011

homem, o bom símio

"o homem, como bom símio, é um animal social, e imperam nele o amiguismo, o nepotismo, a trapaça e a mexeriquice como norma intrinseca de contuda e ética. É pura biologia."

Fermin Romero de Torres em "A Sombra do Vento" de Carlos R. Zafón.

10.18.2011

O monstro da ciência - países produtores




A ciência é, em larga medida, uma actividade em que a rivalidade com os pares está à flor da pele.

Apesar de penoso o processo produtivo e a dificuldade de reconhecimento do trabalho realizado em países da periferia, como o nosso, e apesar da dificuldade em entrar no restrito meio académico, a competição pela hegemonia científica está na ordem do dia, utilizando-se rankings científicos para avaliar a saúde científica das nações.

Utilizando uma das duas bases de dados referencial da qual resulta ranking de impacto: o Scimago Journal Rank, cedo percebemos a hegemonia americana apenas beliscada pela China, o Reino Unido, o Japão, a Alemanha e a França aos quais se segue uma longa cauda de 230 países produtores (Portugal surge num sofrível 34.º lugar).

Os números parecem claros. Apesar disso há que analisar a tendência geral de evolução da produção científica por países para percebermos para onde caminhamos.

Tomando por medida o número de documentos publicados (citáveis e não citáveis - comentários, erratas, etc.), fizemos um exercício simplista de análise da dinâmica de evolução da produção de documentos dos dois principais produtores mundiais: o EUA e a China.

Assim, se os EUA tiveram uma média de crescimento do número de artigos científicos de 0,22% ao ano, a China apresenta uma média de crescimento de 1,11%/ano, mais do que quintuplicando o crescimento científico relativamente à congénere, representado, os últimos 4 anos (2007-2010) 56,5% do total de registos publicados em detrimento de 31,9% do total de registos publicados pelos EUA.

Este tem sido uma das discussões recorrentes (scientometricamente falando), especulando-se ou encontrando-se evidência sobre quando poderá a China quebrar a hegemonia americana. A voz do barulho diz que a próxima década ditará o fim do domínio americano (também na produção científica), mas o proteccionismo científico (auto-citação), o contexto editorial e os incentivos à publicação (para além de outros factores menos claros) são variantes do mercado aos quais a produção nacional irá responder, tornando difícil um prognóstico.

Certo é o fim do domínio americano na produção científica, incerto o quando e quem o propiciará, se os países do BRIC a forçar a queda, se a Europa que parece ainda ter uma palavra a dizer nesta guerra científica sem quartel, entre nações.

9.29.2011

o monstro da ciência


É sabido que a ciência não está no topo da agenda das preocupações individuais (ou colectivas na nossa república das bananas) do comum dos mortais. Ainda que tenha dado origem à maior parte dos conhecimentos, aplicativos, produtos, meios e vontades que nos rodeiam, não reflectimos com frequência sobre o seu papel no nosso mundo.

Na verdade foi-se passando a palavra que ela revestia-se de uma inteligibilidade complexa, dando-se motivos obscuros, idealistas ou fantasiosos para a sua produção.

Talvez por isso o mecanismo mental que despoleta os sentidos tenha aplicado, à ideia de ciência, uma carga negativa (ou pelo menos pesada) que impedirá tantos de tentar perceber os processos básicos de produção científica, não os conteúdos, apenas os motivos da sua produção, dos formatos de disseminação ou das batalhas de gigantes que a impelem a evoluir.

Todos nós nos lembramos dos calhamaços intragáveis que nos faziam marrar nos melhores dias de verão e talvez por isso tenhamos desenvolvido uma aversão natural a esses infindáveis glossários de fórmulas, de palavras, de frases intrincadas, só acessíveis a alguns e que nos têm afastado do verdadeiro formato e sentido em que é produzida a ciência.

Muitos se têm dedicado ao tema mas poucos terão prestado atenção ao que esses seres estranhos têm dito, criando um ruído difícil de transpor e tornando os seus produtores atores secundários num limbo entre a criação impar de valor e a desvalorização coletiva do seu trabalho.

O monstro da ciência passará a ser um conjunto de ideias próprias que partilharei sobre os formatos, motivos e tendências da ciência atual, desmistificando-a aos meus próprios olhos.

9.08.2011

9.05.2011

pérolas do atlântico norte

Cá vão duas pérolas do atlântico norte fantásticas, que vale a pena postar para a posteridade.

Michele Bachmann
"I don't know how much God has to do to get the attention of the politicians. We've had an earthquake; we've had a hurricane. He said, 'Are you going to start listening to me here?'".
Mais ou menos: "Não sei o que Deus terá ainda de fazer para chamar a atenção dos políticos. Já tivemos um tremor de terra; já tivemos um furacão. Ele [Deus] disse: 'Vão agora começar a dar-me ouvidos?".
Cita-se a congressista republicana dos EUA durante um comício do tea party na Florida, sugerindo que os eventos naturais que recentemente assolaram os EUA foram uma chamada de atenção de Deus para as políticas sociais de Obama.

Silvio Berlusconi
"Vou-me embora deste país de merda".
Cita-se o primeiro ministro italiano em conversa. Tiram a frase do contexto e fica isto...
Aliás de Berlusconi admiro duas coisas: Esta citação e as festas privadas.

8.22.2011

festa do chá!? isso é coisa de velhinhos!


A ignorância insana tem assolado a américa, focada no fantasma do socialismo, ideologia demoníaca, pomo de todos os males.

Movido por uma mediatização anti-social e por uma vontade oligárquica de mover o país para a boa velha rota, é sustentada na ignorância das massas convocadas pelos fazedores de opinião.

Reflecte um país ainda muito distante da solidariedade, um país impregnado de preconceito.

Quanto a mim, o lugar no inferno está assegurado. Quentinho e socialista vai ser uma rambóia memorável!

8.17.2011

a janela de Melinda

Melinda é um olhar que reflecte, é uma janela de si.

Não é humana, é um espelho à procura do seu reflexo, uma imagem sem modelo, uma fantasia sem forma, uma máscara que espera ser deposta.

Melinda é poesia. Mas não daquela bacoca, rimante, que resulta num tosco sopro de escrita, Melinda é poema grego, é escrita criadora do pensamento e da sublime razão.

É um rabisco singelo de mão treinada, é o minimal outrora elaborado.

Como para todos, também para Melinda a peste emocional lhe tocou, dando corda no mecanismo universal das marionetas que somos.

Liberta-te Melinda, livra-te da peste emocional, diria Reich. Deita-te Melinda, adormece e acorda, eu dar-te-ei vida, diria Chikamatsu.

Espreguiça-se Melinda do seu sono de ilusão e, nessa altura, o calafrio que percorre o corpo à procura do fio vital acorda-a, de rompante.

Num clarão vislumbra a liberdade, tropeça, cai, sorri, levanta-se, corre escada acima para o seu refúgio.

Recua Melinda, tropeça e cai outra vez, depois chora o que tens a chorar, dói, não dói?Agora levanta-te, corre escada acima, recompõe-te e volta a sair. Passa pelas mesmas escadas, poderás tropeçar outra vez. Se assim for, volta a chorar, a subir e depois a sair. A liberdade está na rua, à tua espera e sem ti não será a mesma.

Liberta-te da forma, da ideia, da convenção, da humanidade, da carapaça, do passado, da lembrança.

Liberta-te do presente, paira por entre os comuns, és energia aprisionada. És energia aprisionada...

Melinda flui, sobe as escadas e não tropeça, entra no seu antigo esconderijo e respira. O ar é menos rarefeito, a vida transborda no agora covil de predador.

Uiva agora Melinda, o luar lá fora é teu.

8.09.2011

American dream ou de ratos e homens



Voltei a "Ratos e Homens" quando ele se cruzou no meu caminho, na última prateleira de uma cinzentona biblioteca universitária.

Já o havia folheado anos antes quando, contrariado, tive de passar os olhos pelo "A Pérola". Por essa altura intrigou-me o título, menos as primeiras 2 ou 3 páginas do romance, deixando-o.

Steinbeck já se havia apresentado anos atrás com "Viagens com Charley" e com "A um Deus Desconhecido" em que me surpreendeu a espiritualidade que a sua visão da natureza comporta, menos evidente no seu companheiro Charley, mas explícito na árvore decepada de Wayne, comprovando, aos meus olhos adolescentes, a existência de uma alma colectiva desprovida de intenção.

Com "Ratos e Homens" a luz brilha em Lennie. O sonho americano é aqui retratado como ele é realmente: um sonho de vida, de futuro, de prosperidade, inúmeras vezes incumprido na realidade dura do trabalho braçal.

Mas é muito mais do que isso.

É a chusma de gente que sonha com os milhões do totoloto, é o taxista que junta para comprar uma terra na aldeia, é o varredor que espera encontrar a fortuna entre o restolho, é o advogado que almeja singrar, sou eu que sonha fazer a diferença.

"Ratos e Homens" não representa um qualquer passado longínquo ou uma realidade geográfica. Representa o homem como ele é: sonhador, e o seu resultado habitual: o fracasso.

O realismo de Steinbeck é assim, espiritual, mas muito cruel. O realismo de Steinbeck, não é dele, é da condição humana.

A não perder.

7.21.2011

libralhada da boa

Terminei o "Último Cabalista de Lisboa". Foi só à segunda que o acabei, depois de perder um exemplar autografado no comboio para o Porto (que mil sodomitas esconjurem diariamente o tipo que me levou o livro!).
De facto, o livro é brutal! A partir de um escrito de quinhentos da autoria de Berequias Zarco, Zimler traz-nos à memória a barbárie cristã que foi assolando os séculos da sua hegemonia europeia.
Os relatos dos massacres de Lisboa e da vida do povo urbano de então, são reveladores de uma sociedade impreparada para a diferença e em busca de um bode expiatório para a sua rusticidade.
De facto esta ideia já me havia assolado quando li a “Crónica de Almançor” por António Saldanha, um calhamaço impensável que relata a vida de um cativo-livre em Marrocos durante quinhentos-seiscentos.
Também me veio à memória um estudo que fiz há alguns anos sobre os "Processados nas Inquisições de Coimbra, Évora e Lisboa", com discriminação do número de judeus considerados culpados nos processos da inquisição.
Na altura analisei apenas os inquiridos do Nordeste Trasmontano (equivalente ao distrito de Bragança) entre 1541 e 1755 (apurado a partir do Inventário dos Processos da Inquisição de Coimbra, entre 1541 e 1755 e das listas das Inquisições de Évora e Lisboa, apresentadas por Francisco Manuel Alves, na sua obra, Os Judeus no Distrito de Bragança, t. V das Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, entre 1551 e 1755, estas, contudo, não exaustivas para o período em causa, elaboradas a partir da Colecção Moreira, da Biblioteca Nacional).
Quando terminei a análise quantitativa dos dados, lembro-me de ter pensado que a indústria das sedas e dos curtumes (a que se dedicavam parte dos judeus de Trás-os-Montes), hoje inexistentes, poderiam ter sido uma alavanca importante para colocar o nordeste no mapa económico português e que o êxodo em massa motivado pelos cerca de cinco mil inquiridos, foi um dos factores do marasmo em que ainda hoje vive o interior norte.
Revejo o Último Cabalista de Lisboa como um retrato do que fomos, reflectindo um país tacanho e rude, que nos trouxe até aqui.
Mas seremos diferentes!? Estaremos imunes ao poder da massa!? Pegaríamos hoje em machados, foices e martelos e faríamos os mesmos massacres de outrora!?
Penso que não, o poder do sofá é grande, mas a nossa língua comprida continua a culpar outros pela falta da chuva, pelo empréstimo chorudo que fazemos, pelo trabalho que nos dão, pelo abuso que é deixarmos as fronteiras livres a quem connosco quer partilhar a vida.
Pelos vistos continuamos tacanhos, rudes, brutais como outrora, mas com o rabo almofadado pelo feitiço da novela, do cochicho, da maledicência que ao português tão bem sabe.
Afinal, poderá não ser um livro sobre quinhentos, mas um retrato actual do Nós interior, pessoal e inominável, escondido apenas para não levantar suspeita.

7.04.2011

Leão, o Africano



Numa pujante auto-biografia possível, Amin Maalouf recria o imaginário do mundo árabe de seiscentos, num breve tratado de história diplomática euro-magrebina, levando-nos a viajar com Hassan al-Wazzan entre Granada, Fez, Cairo, Roma e outras tantas.
De realçar as passagens fantásticas sobre costumes muçulmanos e vida nas cidades, bem como sobre a centralidade do corão nas sociedades do mundo árabe.

Não sendo uma obra-prima da literatura é muito bem escrito, com apontamentos históricos muito bons, em suma, um livro muito porreiro.

6.29.2011

EMBALLAGE EUROPE – velhas ideias ainda populares – a criação da European Packaging Federation

Em 1953 fundava-se a European Packaging Federation (EPF), como corolário da Conferência de Embalagem em Itália que juntou os representantes dos centros de embalagem da Alemanha, França, Holanda, Áustria e Suíça, desenvolvendo um trabalho de colaboração das várias associações no sentido da normalização de tipos e materiais de embalagem, congregando trabalho já desenvolvido por algumas organizações nacionais e fomentando novas práticas que incentivassem à participação internacional mais ampla.
Sob a égide da Organização de Cooperação Económica Europeia (OECE), pretendeu-se a estandardização de formatos, potenciando economias de escala e tendo por base a normalização de procedimentos e resultados, bem como o estabelecimento de normas de controlo de produção, considerando os complexos interesses dos stakeholders: produtores, transformadores, utentes, fabricantes de maquinaria, comércio, transportadoras, entre outros.
Os primeiros 10 anos de existência da EPF pautaram-se pela consolidação de actividade e articulação conjunta, tanto entre as diversas organizações nacionais, quanto com os comités de normas reunidos no já reconsolidado International Standards Organization (ISO)(1) . De facto, na sua década inicial, criou um sector de embalagem adstrito à ISO, com diversos comités: ISO/TC 52 – latas de conservas, ISO/TC 17 – folha de flandres (2), ISO/TC 53 – embalagens de produtos refrigerados, ISO/TC 63 – gargalos de vidro, subcomité do ISO/TC 6 – papel, designado embalagens de papel e cartão, ISO/TC 51 – tabuleiros para transporte de mercadorias e ainda o ISO/TC 88 – marcação de embalagens de transporte.
Ao EPF cabia a divulgação das normas junto dos associados e a utilização dessas normas como base do trabalho internacional colaborativo. Estes trabalhos desenvolveram-se no âmbito de estruturação de formas de embalagem por tipo de produto, no âmbito técnico e científico no desenvolvimento de novas soluções tecnológicas e optimização de métodos e processos de produção e ainda no âmbito da unificação das determinações sobre a nomenclatura de qualidade nas embalagens de transporte, criando uma marca de qualidade unitária europeia da embalagem produzida - a EMBALLAGE EUROPE.
Destaque-se a pertinência e actualidade das questões levantadas em 1953, a complexidade de criação de processos de normalização, de controlo de qualidade e de criação de chancelas de qualidade comunitárias, ainda na ordem do dia comunitário e cujo trabalho europeu ainda necessita de consolidação ao nível das nações.
Como roda viva, trabalhamos velhos problemas com novas ferramentas, esquecendo, muitas vezes, a engrenagem original que criou a máquina que criou os processos que construiram a base de qualidade dos produtos e embalagens certificadas: em suma, que nos criou a nós reclamos andantes que somos de marcas e embalagens...

Quem quiser saber mais sobre a European Packaging Federation, não sei o que recomendar, esquecida que é hoje do comum dos mortais... se o google não a apanha, não existe, se o google não o referencia, não existe como memória de nós.

Por isso me dediquei agora à EPF.


(1) O ISO foi fundado em 1926 como International Federation of the National Standardizing Associations (ISA), focado na engenharia mecânica. Tendo sido descontinuado em 1942 durante a II Guerra Mundial, foi reorganizado em 1946.



(2) Folha de Flandres – material base para embalagens de folha fina.

6.27.2011

pasquins da mouraria e outros semanários que tais


Neste post, Expresso a tristeza que é ler alguns semanários seminais. Tarefa árdua numa república bananal que se esquece do país, preso à capital.
Folhear as resmas de separatas, adendas, panfletários, folhelhos e afins, resume a muito pouco as notas de uma semana nacional, num pasquim que, número após número, se esquece que há muitas notícias frescas de um país para além das fronteiras de benfica, alfama ou da margem sul.
Paradigmática a notícia (ou antes, não notícia, já que só apresenta sumários descontextualizados de perguntas bacocas feitas a gente que teria muito mais que dizer) sobre os 7 dirigentes de instituições de ensino superior de economia e gestão mais destacados do país.
Centrado em Lisboa, cidade representada por 4 instituições, esquece as iniciativas já amplamente reconhecidas lá fora, mas esquecidas de jornalistas de gabinete que, sentados num qualquer edifício cinzentão da metrópole, não ouvem os guinchos da macacada do norte.
Sinceramente, entristece-me (a idade provoca estes afrontamentos) ver relegadas para segundo plano a EGP ou a EGE, em detrimento de outras iguais cuja vantagem é serem sulistas. É triste falarem de um jornalismo livre e esquecerem que há vida para além de meia dúzia de palavras vãs sobre o Norte, esquecendo o país real. É triste falarem hoje das empresas têxteis do norte, quando são caso de estudo há já alguns anos pela inovação com que têm atacado os mercados internacionais.
É triste ver um semanário cheio de vaidades que se esquece de fazer jornalismo, de ser interventivo e de se afirmar como um espaço de informação e não de publicidade.
Acho que vou deixar de o comprar...

5.27.2011

tags, etiquetas e outras miudezas



Rendámo-nos às tags. Estas etiquetazinhas são a base da confortável sociedade-de-consumo-imediato que nos rodeia.

Ora indicando preços da meia calça, ora informando da qualidade de um qualquer produto, ora direccionando-nos para o mundo virtual.

Aqui, neste quioske mal amanhado, também as tags têm servido para um qualquer incauto cair da teia de palavreado que a envolve.

Vejamos algumas das tags que têm servido para trazer cá gente que, claro, logo desaparece no complexo mundo de informação da rede:

"como ser furtivo" - 2 visitas

"o que é ser furtivo" - 2 visitas (não sei bem o significado)

"troika cavalos" - 2 visitas (cavalgaduras, antes)

"cafe flatulencia" - 1 visita (causa, causa)

"boca de labagem"" - 1 visita (sou eu)
"cafe causa flatulencia" - 1 visita (pois causa)

"café flatulencia" - 1 visita (já disse que sim)

"compra e venda de burro mirandês" - 1 visita (vendo principalmente)

"meia branca" - 1 visita (uso! de ginástica quando ponho a minha gravata amarela)

"meia branca juri" - 1 visita (quê!?)

"teu rastro de sangue na neve" - 1 visita (what!?)

E por aí fora... Quem passa os olhos, logo vê que aqui se fala só da flatulência, da compra de burros e da meia branca.


Que belo quioske temos nós por aqui... eloquente!

5.24.2011

a esquizofrenia e as organizações

Há uma certa esquizofrenia nas instituições portuguesas.
Ora motivados pela deriva estratégica, ora pela incapacidade organizativa, ora ainda pela dificuldade em delegar, empreender, inovar ou, simplesmente, simplificar a mensagem.
Incapaz de se centrar nas funções nucleares que deve empreender e que lhe dá significado, logo deriva numa bipolaridade entre o que quer fazer mas não tem capacidade vs o que deve fazer mas não sabe como.
A ideia parece abstracta, mas se reparamos, por exemplo, no mar de páginas institucionais, de perfis de facebook e de twitters actualizados à semana e que se apresentam como a face de um designer mas não o objecto de um cliente logo se concretiza a esquizofrenia das organizações.
A máxima organizativa "keep it simple" parece estar alheada da decisão e o foco no cliente parece ter sido enviado para segundo plano numa sede egocêntrica que vê o resultado não como evidência de um processo contínuo e moldável, mas como um objecto intangível e imensurável.
Sem resultado e sem aferição do processo que lhe deu corpo, nada será medido, nada será apurado, nada se poderá optimizar, melhorar, avaliar e valorizar.
Claro que os bons exemplos serão sempre bons, mas será que os medianos e os medíocres não se afundarão ainda mais num mar de informação em que quem não se destaca morre? Será que os decisores não se apercebem que contribuem para o próprio fim, quando se afastam da simplicidade organizativa e do foco no cliente?
Talvez o saibam ou talvez nem sequer façam ideia do que se escreve por aqui. De toda a forma a sua bipolaridade impedirá sempre o esclarecimento que se impõe quando se tem em mãos a responsabilidade da decisão.

5.09.2011

socretinices

mais uma vez Sócrates cilindra um Portas pouco blindado...

comparo-o ao Pinto da Costa. Se um é o papa bujardas (nos dois sentidos pelo que parece), em empate técnico com João Jardim, Sócrates é o papa debates, mesmo sem teleponto fulmina o parceiro....

Quer se goste, quer não, o homem nasceu para malhar (que é feito do saudoso Santos Silva) na oposição...

5.05.2011

troika = trenó puxado por cavalos

Depois do golpe de teatro sobre o que não irá acontecer, cá lançam o memorando de entendimento, bem mais motivador do que a fraca comunicação ao país, como que a arrebanhar votos.
Especial enfoque para as medidas a implementar sobre o emprego (quem lê o memorando e não sabe de onde vem, ficará abananado com as medidas de protecção aos trabalhadores independentes), a formação profissional, a racionalização da AP e a regulamentação profissional.


No geral, parece-me bem, aliás, muito bem no que respeita ao fim das cédulas profissionais de grupos como operadores turísticos e afins que de (desin)formação têm muito...


Parece-me ainda bem as medidas de análise de associações e institutos públicos com vista ao fim da ampla matéria gorda...
e as medidas de contenção de cargos públicos

e as medidas de ajuste na administração local (racionalização de municípios e freguesias)

e as medidas de apoio à reconstrução imobiliária

e as medidas de contenção em gastos adicionais de custos de representação

e as medidas de racionalização dos departamentos de finanças
e as medidas de reforço dos corpos de auditores e fiscais


Em vez do que NÃO vai ser feito, podia ter sido feita uma declaração ao país sobre o que vai ser feito, seria bem mais construtivo e... vá lá, nem todos são meninos de coro que precisam de ser sossegados por mais um dia...

5.03.2011

eu comment

Há milhões de insanos que festejam a morte de alguém. Esses mesmo ficam indignados quando vêem um pedaço de pano ser queimado em público...

Quem é o terrorista afinal!?

O marado farfalhudo soviético dizia que "uma morte singular era uma tragédia, um milhão, uma estatística", afinal tinha a sua razão, é que morre um gajo, há festa, morrem 22 mil crianças por dia, é uma estatística.

É cada bronco!

Relatório 2010 sobre mortalidade pelo link: Levels & Trends on Child Mortality

5.02.2011

non finito

Há uns tempos, tentei, sem efeito, fazer uma revisão sobre o renascimento, no que se refere ao ressurgimento clássico e aos princípios formais do renascimento.

Hoje, o homem de vitrúvio relembrou-me a lição... não tanto pelos apontamentos, mas pelo espírito contemporâneo que um revivalismo potenciou, talvez não por si só, mas pelos homens que o fizeram, indo muito além dos cânones e do academismo que ele representa.

Com Bounarroti e a ideia a que deu forma, revoluciou-se o conceito do afloramento original e da intenção criadora travada pelo espírito da matéria.

A partir daí a forma extravasou a ideia, o artista libertou-se dos ferrolhos apertados da fórmula clássica (arte=ideia+forma), transformando-se na entidade salvadora do espírito que a matéria aprisiona.

Com a sério "os prisioneiros" libertou-se a forma da ideia, deixando ao artista a vã glória de decapar o que o espírito original retém. Do artista, nasceu o artesão que arranca à pedra a alma encarcerada.

E assim se fez arte. Pena que alguns não a vejam como ela é... a esses, chamo-lhes artistas, aos outros, anarcas libertadores da matéria.

4.27.2011

do que fala a "mais fina flor da aristocracia portuguesa"






Ontem ouvi com assombro uma reportagem inusitada. Acho que nem eu nos meus mais loucos devaneios pensaria numa entrevista a sua alteza a duquesa de carabaz... ou do carnaval.

Sua excelência a senhora duquesa, pertencente "à mais fina flor da aristocracia portuguesa" (cito o narrador), apresenta-se sentada junto à lareira real, com mise proeminente e pele de leopardo, referindo-se assim ao que a plebe designa por precedência e protocolo:

"quando se trata de um casamento real há diversas... há muita diplomacia que não se pode... não se tem o direito de... ao erro... e que se tem que ter muito cuidado porque todos os convidados têm que ser todos tratados da mesma forma, mas sobretudo não esquecendo, não, quem será sentado nesta fila, porque, não pode passar à frente deste mas também tem de ficar ao lado deste... Há diversas coisas que... prontos (sic) um sistema de maneira das coisas serem feitas que num (sic) podemos esquecer sobretudo, que é muito importante!"

Pérolas destas só me lembro da mítica frase do emplastro "o Pinto da Costa é o meu pai e o Victor Baia é a minha mãe..."

Ai que sôdades desses anos loucos do rei omeleta.... é que isto de populaça, república e demónios-afins-bem-falantes é coisa do zé povinho.

Sua magnífica excelência a duquesa de catrapaz, merece respeito pelas suas sábias palavras... pretendia apenas simplificar o discurso para o seu povo devoto perceber.

Hoje, vou rezar dois pais-nosso e três avés-maria para me purgar da minha maledicência.

4.25.2011

disc-ursos



Tive, mais uma vez, a paciência de ouvir os discursos e os comentários nas comemorações do 25 de Abril.


Tocante! Uma lágrima corria-me pela face ao ouvir responsáveis e ex-namoradas falarem da necessidade de coragem para enfrentar o futuro, do imperativo de reformas estruturais e de um bate-no-peito pelo que outros não fizeram...


A solução, como sempre, passa por novos rumos, novas figuras e uma nova forma de ver o país... Será mesmo assim? É que da assistência conta-se pelos dedos o povo abaixo dos 50 anos... é a experiência, meus senhores, é a experiência a funcionar... pelos vistos no mau sentido, pelo que vemos...


Esses profundos disc-ursos fizeram-me lembrar Mark Twain em Pudd'nhead Wilson "nada precisa tanto de reforma como os hábitos alheios" e na verdade, entre referências a maus políticos e maus cidadãos (outros claro!) não ouvi ninguém assumir culpa de nada...


Um dia faço um disc-urso sobre a reforma.... começará pelas palavras de ordem:


Reformai-bos camaradas, reformai-bos!

4.19.2011

pensamentos vergonhosos!


Costumo abstrair-me do contexto neste meu espaço de relaxe, pelo cinzentismo do dia-a-dia e pelas palavras calculadas que se lê tanto no mundo virtual, quanto naquele partidário, afiliado, parcial e lodoso lago da edição periódica.

No JN de hoje, Alberto Castro, comentador de impulso, apresenta a falta de crescimento nacional como "uma vergonha". Adiciona ainda um cartoon algo ranhoso de Francisco Providência representando um menino envergonhado, com orelhas de burro.

Bom, não deixo de concordar a estranheza do facto. Países como o Cambodja, o Burkina Faso ou a Líbia e o Iraque, apresentarem crescimento acima do português é, no mínimo, irónico.

Mas daí a considerar "uma vergonha" faz-me pensar no que me fará corar... o crescimento da extrema direita em países de primeira linha do crescimento mundial, a manutenção de facínoras no poder em países amordaçados, a tirania da banca no mundo capitalista, o poder vitalício de mafiosos em países do G7, ou imagine-se, num outro patamar de descaramento, a edição de um pasquim diário apresentando na primeira página e em destaque gordo a morte de um homem ao pontapé e uma qualquer rixa, como se não houvesse factos públicos relevantes para o comum mortal que deveria comprar o jornal para se manter actualizado...


Bem, mas isso sou eu que me envergonho com pouco...

4.12.2011

nomes inusitados II


Porto, 2011, nomes fluiam no terminal em frente, nas ruas movimentadas do mundo virtual.

Nomes insondáveis autores de ciência de alto impacto polulam aos milhares: Johnston, X.; Smith, Y., e muitos, muitos mais com derivações para todos os gostos, guardando em si, uma cara, uma personalidade, uma forma de ser e estar, boa gente e outros que nem por isso.

Dedico-me agora a nomes chineses, esse intrincado mundo de derivações, em que Li Mung refere a Li Ming que Li Mong citou Li Meng...

Todos originais, são autores de artigos científicos inclusos na maior base de dados referencial: a Scopus.

Cá deixo apenas algumas derivações possíveis de apenas uma combinações: Li, J.:

Li, Jungying
Li, Jingming
Li, Jing Jing
Li, Jung
Li, Jingquan
Li, Jinlei
Li, Jing Yue
Li, Jung Pang
Li, Jingin
Li, Jiantao
Li, Jiangyu
Li, Jizi
Li, Jin
Li, Jun Lan
Mais nomes inusitados, em português, aqui

3.29.2011

libralhada da boa

"Nos tempos antigos. quando pessoas e animais partilhavam a terra, um ser humano podia transformar-se num animal se assim quisesse, e um animal podia transformar-se num ser humano. Às vezes eram pessoas e às vezes animais e não havia diferença alguma. Todos falavam a mesma língua" cita um velho anarquista angolano num refrescante milagrário pessoal.



E que bom seria sermos falcões ou doninhas se assim o quisessemos...

3.16.2011

pensamento I

"Os homens são, regra geral, excelentes pessoas" - Eduardo Sá em entrevista ao Destak de 16 de Março de 2011.

1.26.2011

Coisas sobre cafés no Porto V

Cartoon by Drew at: http://www.toothpastefordinner.com

Li algures que os cafés do Porto conjugam memórias de bairro com vivências cosmopolitas. Concordo plenamente, são locais de encontro de gerações, sensibilidades, de vidas sem nenhum ponto comum que por um momento se cruzam, ou que se cruzam pela primeira de muitas vezes.

Como o diz o meu amigo Hugo, George Steiner escreveu algures que a Europa, enquanto espaço quotidiano comum, já existe nos cafés.

O Porto não foge à regra. Aqui, os cafés são locais de debate, de cultura, de vida partilhada, de conversa desmedida, entre mesas onde o que é poderoso e frágil aflora o palato através da chávena e onde a palavra escorre, descomplexada.

1.20.2011

Coisas sobre Cafés no Porto IV (e afins)



Localizada no Cabo do Mundo, a Casa de Chá da Boa Nova, de autoria de Siza Vieira, é afastado do centro da cidade. É um espaço virado para o promontório avassalador que nos mostra a força do mar e a persistência da pedra.
Uma escadaria limitada por muros altos faz-nos subir ao cimo do afloramento rochoso de onde se contempla o inexorável destino das ondas, a costa. Desconcertante caminho esse, não sobe, ao invés, desce, como que submergindo.
À entrada sobressaem os rasgos dominadores que nos mostram o silêncio do mar. Lá por dentro, revestido de madeira, estamos, de facto, numa cabana de praia.
Aqui beberica-se um café com maresia e a introspecção toma conta de nós. É indescritível, nem sequer coragem há de interromper o lânguido encontro das ondas com a pedra.