8.10.2012

quiosque patrício

Patrício é um filho da puta. Não daqueles cabrõezinhos que dão a facada na primeira ocasião para fazer dinheiro. Não. Também não o é pela sua santa mãe que o alimentou, desde tenra idade, com dinheiros amassados à custa do corpo. Não.
É antes um filho da puta amoral. Um daqueles que pesa os escrúpulos quando à frente se colocam valores instituídos, mas que os quebra à primeira oportunidade. O seu quiosque de 1 por 1 reflete-o. É Patrício espelhado.
Único aberto até altas horas, é um quiosque noctívago, isto é, abre de noite, fecha de dia. Não pelas vendas aumentarem, longe disso, nem para poder fugir às rusgas legais que à porta batem em horas de pessoas normais. Não.
Abre para o engate. Para o engate. O homem do quiosque é conhecido por aplacar qualquer incauta que lhe vá na lábia.
Vende muito tabaco o quiosque do Patrício. Também já vendeu cerveja contrafeita, mas os donos dos bares da zona já trataram disso, os filhos da puta.
Agora vende tabaco, muito tabaco. De enrolar principalmente. E contrafeito, aquele sem etiqueta. Desse também. Vende muito desse o quiosque do Patrício. E há noite é melhor, não há tantas rusgas.
Há, mas são para fechar os bares. São os filhos das putas dos vizinhos que os chamam depois de atirarem sacos de mijo à cabeça dos bêbados filhos das putas que fazem pandega à porta dos bares.
Mas são uns filhos das putas amorosos esses bêbados. São. Compram tabaco. Às vezes cravam um. Não têm dinheiro, coitados. Percebe-se, foi tudo nos copos. Fica a vontade de mais um cigarro para aplacar a serradura lingual que fica no limbo pré-ressaca. E com o cigarro vem a saliva. E com ela o amainar do serrim seco que quebra os lábios e dificulta a fala. Sim. É isso que dificulta a fala. Não é a cerveja, é a lixa.
E com isso, lá dá um cigarro Patrício, para logo vender mais um maço. Um crava hoje é um cliente amanhã, pensa por vezes Patrício. Tirando, claro, os cravas profissionais. Mas esses já os conhece Patrício. São uns filhos das putas esses cravas convictos. Sempre a cravar, sempre a cravar. Filhos das putas é o que são.
Neste vai e vem de bêbados e cravas, lá aparece uma oportunidade. Dessas que acabam a noite excitadas mas sozinhas pela inércia de um qualquer filho da puta que não lhe soube dar a volta, pensa Patrício. E essas, pesca-as todas Patrício. É um filho da puta Patrício. Fecha a portinhola do seu quiosque, abre a braguilha. Todas quiseram. Disso todos têm a certeza. Até Patrício. E elas também, não há dúvida.
Por uma ou outra vez, por falta de melhor, lá foi um crava ao castigo. Fecha a portinhola do quiosque, abre a braguilha. Pronto. Esses cravas por norma não voltam. É uma boa tática, pensa Patrício. Afasta os mosquitos, diz Patrício.
Por cada novo entrante no quiosque, faz Patrício um traço no interior do seu quiosque. Filho da puta o Patrício. Algumas (e alguns) tentaram entrar de novo no seu quiosque afoito, mas Patrício não vai na conversa. Quer novidades, não quer mais do mesmo, o filho da puta.
Os porteiros dos bares da zona já o conhecem de ginjeira. É o Patrício, filho da puta. Não é nada de especial o rapaz, mas deve ter um instrumento de ouro, dizem. Todos o querem.
No final da noite lá fecha Patrício o seu quiosque. Por vezes (muitas) sem faturar. Outras, vai contente Patrício ajeitando as calças à macho. Vai dormir. Há noite tem de estar fresco para a faina.
Sabe Patrício que é um filho da puta. Mas não quer pensar nisso. Está bem como está. É o que é. E sobre isso, nada a fazer.

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