4.13.2005

O poder autoritário do binómio 0_1

Recensão crítica à obra de Pierre Lévy, Máquina Universo: criação, cognição e cultura informática.

A era tecnológica em que vivemos, realidade perversa que auxilia e limita o Homem, apresenta-se como uma verdade inegável do nosso tempo. A ferramenta informática, organizadora laboral e relacional da comunidade global, possibilita também o controlo da informação e das pessoas em contexto social. Vivemos, pois, sob o efeito big brother – como se de um grande irmão controlador da vida dos “manos” se tratasse. A não bastar, se nos dá a ilusão do conhecimento universal, dá-nos também a solidão, única forma de tratar a informação.

Neste contexto de mudança, a própria realidade sensorial e espacial sofre transformações irreparáveis, muitas vezes negada pelo ser humano. É a luta desigual da terceira vaga informacional vs a resistência à mudança humana. É, em suma, a era tecnológica em acção.

O autor define o computador como reestruturador completo da aprendizagem e da imagem. De facto assim é, se vivemos uma era informática em que o acesso à informação se define de forma completa – tudo respira informação –, a resistência pessoal às clivagens do conhecimento não conseguem acompanhar a evolução natural de um produto construído e transformado, que acelerou o conhecimento de nós mesmos e do nosso contexto, colocando-nos num patamar egocêntrico de conhecimento – o Homem domina o Saber.

De forma autoritária, o computador assume o seu papel de redefinidor de formas, de conceitos estéticos e, até, artísticos, de tal forma que a vida ocidental gira à volta dele. É neste sentido que vislumbrámos um mundo transformado em linguagem assembler (binária), em que tudo é passível de ser transformado em consequências infinitas de zeros e uns, para melhor ser compreendido e passível de ser difundido. É a era global a funcionar na sua plenitude, ainda que dividida por uma barreira desenvolvimental – o hemisfério norte económica e socialmente desenvolvido e o hemisfério sul, a quem é vedado o desenvolvimento sustentado e consequente acesso à informação.

Em suma, o autor define a mutação antropológica da era tecnológica, segundo dois conceitos: necessidade - científica: de formar, de conhecer e de difundir; e liberdade - cultural: de criar, recriar, aceder e compreender a diferença em tempos de cólera obsessiva pela normalização, também ela necessária, a nível do acesso à informação, mas recusável, no que concerne ao seu conteúdo.

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