6.21.2006

memórias partilhadas pela avó

A memória tem destas coisas, a inata vontade de se extravasar sem querer que os segredos inauditos do seu portador sejam partilhados.

Quando vividos flúem sem se aperceber que estão a ser absorvidos por outros, atentos à vontade alheia.

Assim acontece com a avó Micas de que já mencionei a chegada.

De tez carregada e hálito quente, deixa transpirar pequenas gotas que reanimam tempos idos, anos em que os passos ecoavam nas noites solitárias da gélida aldeia que a viu desabrochar.

Por lá, essa tal Macondo escondida, as festas eram em honra de são joão, épocas de folia e de libertinagem.

Porém, para ela, nem sempre foi assim.

Tempos houve em que se escondia entre lençóis incógnitos, amedrontada com a parafernália de sons retumbantes sem fim e com essa estranha visão de luzes incandescentes que teimavam em surgir vindas do nada.

Para aliviar o seu fado vagabundeante e mal quisto pela populaça, deixava-se levar pela mão suave que reconfortava as suas lágrimas escusas.

As festas não são para todos, são para aqueles que têm a quem deitar a mão, dizia, enquanto trejeitos forçados impediam o pingo de verter.

Nada mais saiu senão olhares vagos e miares imperceptíveis enquanto movimentos incontrolados franzem a bochecha casquilha e ternurenta, aqui ao lado.

2 comentários:

teresa.com disse...

perdeu o fogo de artifico... mas ganhou uma mao suave

Sukie disse...

Há festas e festas...