3.30.2005

Mar agitado, o das palavras!

Viajar! Deambular sem destino pelas palavras, ideias e concepções do autor e nossas...

Como é ternurenta a relação do escritor com o leitor! De uma generosidade imensa… daquele que nos oferece a sua realidade mental, mesmo ocasional, para que nós a possamos transformar em sentimentos e experiências, viajando, assim, por um mundo que não é o nosso mas que reflecte, muitas vezes, a nossa própria realidade sensorial...

De tal forma que vivemos outra vida, a da personagem, para dizermos o que ela não disse, mas que sabemos que queria dizer... viajamos pelo mundo das imagens transformadas em palavras…



Viajar... e viver, gritamos por viver, longe de tudo o que nos oprime e nos impede de respirar o ar puro da sinceridade!

Gritamos por vida, por liberdade de pensar e agir, por tudo o que nos prende ao presente e não nos deixa evoluir e crescer!

Tristeza, choramos por tristeza... de pensar, de sentir, de querer, mas não querer, não conseguir, não ser capaz de deixar e seguir em frente!

Ah livro maldito que nos fazes escrever o que não queríamos sequer pensar...

Ah livro ardiloso que nos queres dizer aquilo que sabemos, mas não queríamos saber!

Ah livro labiríntico que nos impele a entrar mas não nos deixa sair!

Ah livro amigo, confidente, sentido, que nos explicas o que conhecemos mas não queremos ver!

3.26.2005

Fica na merda, meu amigo... é o que te desejo!

Há muitos, muitos anos [no tempo em que os animais falavam e em que Melquíades, o sábio, influía no espírito de José Arcádio Buendía, no sentido deste inventar a fabulosa máquina de cuspir gelo], o povo da erva falava, sonhava e também sofria com os contratempos do dia-a-dia!
Pois o caso é que um certo dia, um pintassilgo distraído irrompeu por uma varanda dentro, filado nas migalhas deliciosas de um pão recesso com vários dias de exposição! Porém, a janela, fechada, fê-lo gurar o intento, e ao invés de comer, foi comido por lorpa ao esbarrar contra o vidro e ao cair, estatelado, num viçoso jardim...
Em estado de choque, não se mexia... porém, alguém que por aí passava, ao vê-lo naquele estado vegetativo decidiu pegar nele e, profetizando que apenas uma quente e fofinha bosta de vaca o poderia aquecer e aclamar, decidiu abrir um buraco no dejecto para o colocar bem aconchegado [que raio de coragem... mexer na merda!].
O pintassilgo, ainda meio grogue com o terrível aroma natural que dele já emanava, começa a espernear, queria, legitimamente, sair do seu fofo cafofo...
Porém, nessa mesma altura, lá no alto, majestático, um falcão avista-o, e, num ápice, cai sobre ele, matando-o e comendo-o... até aos ossos... todinho!
Esta é a triste e fugaz história do zé passarinho que, da vida, conseguiu aprender uma única lição e que eu passo a transcrever, uma vez que este foi o seu último desejo!
Quando estás na merda, deixa-te estar quentinho e aconchegado... pois quem te lá pôs, podia não te querer mal, e quem de lá te vai tirar, pode não o fazer por bem!
É, realmente, uma história do car***o, a do zé passarinho! Paz à sua alma...

3.25.2005

Quando a calmaria surge... fica o silêncio!

O leitor tresmalhado que a este blog vem ter, (tive 3 visitas no dia de ontem!) deve ter indagado do porquê da inconstante colocação de posts no quioske!
Bom, é que, quando nos referíamos à falta de inspiração, estavamos a referir-nos ao nosso caso particular!
De facto, foi-se a inspiração e como ainda não subejou o talento, fica o silêncio!

Esperamos em breve satisfazer os mais cupiosos intímos com uma história de arromba que ainda não nasceu, nem no papel nem no intelecto...

Aguardo, pois, notícias minhas a qualquer momento!

3.23.2005

Quando a inspiração se vai...

A inspiração é algo que surge quando menos esperámos!

Outras, como esta, simplesmente não surge!

Por vezes, a leitura de um bom livro, dá-nos pica para nos colocarmos na pele da personagem, submergirmos na história narrada e apreciarmos o que se passa lá em baixo, no sub-mundo da ilusão!

De tal forma que não queremos acordar dessa neblina que nos embrenha!

Pensei em escrever sobre o tabaco... nããã...hoje não é o dia! Não estou com paciência para pesquisar e construir um texto que não seja este, o das ideias, infundadas e inconsequentes!

Ideias imberbes e inconstantes que mais não são do que prefixos perdidos num mar de figuras de estilo (obrigado bárbulo!) que mais não fazem do que florear uma certa verdade... quando a inspiração se vai....

3.22.2005

Memória das minhas putas tristes ou, a minha realidade romanceada!

Saiu um livro novo!

Quer dizer, não saiu, já tinha saído, mas só agora chegou a Portugal o novo livro de Gabo.

A história de um ancião que, para festejar os seus 90 anos, decide oferecer a ele mesmo uma noite louca de prazer com uma adolescente tenra.

Seria de pensar que tudo acabaria com a morte do viejo, depois do esforço físico exacerbado! De facto, assim é: morre a solidão empedernida que com ele viveu até aí.

Nasce o amor, tal como com María dos Prazeres que se havia apaixonado, no fim da vida, pelo motorista que a salvou da borrasca!

Um amor correspondido, aquele que fez Ariza comer pétalas de rosa apenas para sentir o que pensava ser o cheiro da sua amada! O mesmo que fez Delaura abdicar dos seus princípios ou que fez Sierva María aceitar os padrões ocidentalizantes....

Esse mesmo, que fez Rebecca matar o seu possante Buendía, ou aquele que manteve Amaranta só, cozendo, lentamente, a sua própria mortalha, esperando a morte...

Bom, esse mesmo que faz o transviado leitor cantar, sorrir, chorar... berrar...BERRAR!

Ao velho, deu-lhe para pedalar...

Tão importante quanto a possibilidade do amor aos 90, toca pela ternura com que define a velhice e pela forma como torna perceptível - para quem nunca por lá passou, mas para lá caminha - o misto de nostalgia/saudade com que se vê o passado e se estranha o presente, mesmo quando influímos na opinião de outros.

Memórias sobre o amor e outros demónios, quando se anunciava a morte do patriarca solitário!

3.18.2005

O diário de Mustafa: Bússola Política

Title: NEWS in www.imagebank.com



Cara amiga,

Se tem problemas existenciais, insónias ou não sabe o que fazer para o jantar.

Se vive deprimida, com dores menstruais ou precisa de saber se tem êxito com os homens, não deixe de fazer um teste à sua consciência.

Vá a http://www.politicalcompass.org/ e faça a sua carta astral! Em caso de ignorância extrema, poderá fazê-lo em português no jornal Público, pesquisando por Bússola Política.

Quanto a mim, caras amigas, fi-lo em português, pois nada como pouparmos neurónios com assuntos fúteis como: Direitos Humanos, Sexualidade, Consciência Social e Concepções Políticas, quando podemos ocupar o nosso tempo na lide doméstica e a coscuvilhar a vida da vizinha.


Até à próxima edição de,

O diário de Mustafa

3.17.2005

Estranho mundo o do futebol!

Após um dia proveitoso em plena capital, nada como um bom joguinho de futebol para relaxar!

Num estádio confortável e quentinho, para o frio que estava lá por fora, tinham que me calhar um bêbado, um charolo, um fedorento e, imagine-se, outro bêbado!

À minha esquerda, nada a declarar [iam comigo e, como provavelmente vão ler este post, é melhor não desdenhar!], companhia fabulástica, não fossem as trombas do rapaz que nos ofereceu o bilhete, quando, aos 73 m 13 s da segunda parte, o Penafiel marca mais um e eu não me contenho, desfaço-me em risos infantis provocando um mal-estar generalizado...

De um lado aconselhavam-me bom senso, uma vez que o bêbado, o charolo, o fedorento que já estava bêbado e o outro bêbado começavam a babar de raiva [insisti que era do excesso de cerveja, mas os outros não acreditaram...]!

À frente, rezavam para que continuasse, à espera que uma galheta vinda da direita me serenasse os ânimos e me fizesse engolir o prognóstico de 0-1 para o Penafiel!

Do outro lado... bom, do outro lado acho que não havia nenhuma opinião formada sobre... nada... a avaliar pelos comentários variados: - Anda filho da puta! Corre filho da puta! Chuta filho da puta! Defende filho da puta! Fooooda-se, pó caralho do bimbo!
Apenas começavam a achar que seria interessante descarregar alguma da frustração que o 0-2 propiciava...

Bom mas o caso é que, estando eu num habitat estranho, como se do Microcosmos se tratasse, eu era, de facto, o elemento parasitário!

O bêbado, o tóino... antes... os bêbados, estavam siderados com os impropérios que lançavam a uma e outra equipa, ao árbitro e até uns aos outros!
Mais contente ficou um ao avisar-me " – Vou dar uma mijinha!"... Considerei-me realizado, alto grau de satisfação na pirâmide de Maslow, finalmente sou feliz! [Porque raio de carga de água há-de alguém querer partilhar algo do género com outra? Achará isso um sinal de magnificência!?].
Seguravam um cartaz que, a avaliar pelas palavras do verde narigudo, fazia lembrar os bons velhos tempos do jardim infantil, em que rabiscávamos algo indescritível.... Como não o consegui ler, apesar de estar a 15 cm do dito papel, acredito na sua palavra.

La compañera, deliciada por estar num estádio do adversário, como se de uma clandestina se tratasse, vibrava em silêncio com a desgraça dos caseiros, febril rival do clube do curaçonhe!

O verde narigudo, feliz por arranjar bilhetes "à borla", via o jogo em silêncio com uma dor tão profunda que extravasava o seu olhar ao ver o inevitável...

À frente, o doador de órgãos, chorava os bilhetes oferecidos, pois, para além de "gajos da província", não eram do sistema... imagine-se... nem do Benfica eram! Ainda por cima, o baixinho gordo não parava de rir!!!

Eu... vibrante e efusivo como sempre, mantive-me calado, taciturno e com bico de pato até ao segundo golo. Aí, tive de sorrir... estava a saborear a desgraça dos outros... afinal, também sou humano!

3.15.2005

O sinistro caso do cartaz assassino!

Foto: Isabel Figueira por Triumph

Após uma viagem calma pelos caminhos (directos) de Portugal, eis que chegamos a Lx. Tudo tranquilo até que, sem nenhum aviso prévio, damos de caras com um mega cartaz, mesmo à saída da auto-estrada, com uma foto ampliada de um naco de carne!

Não, não existe uma única palavra em toda a superfície, apenas a imagem, carnuda, desculpem... desnuda de um bife! Sim, é assim que o transeunte da dita estrada (eu incluído) vê a rapariga... não interessam as suas qualidades pessoais, apenas a peça!

Faz-me lembrar a célebre apologia da carne brasileira, não interessa que ela não seja sujeita a exames veterinários, o que importa é encher a boca com o suco sanguinolento que ela larga, lembras-te?

Bom, retomando a história... dou por mim a contorcer-me para manter a visibilidade para o placard e, com isto, a acercar-me do carro do lado! Não fora a minha companheira de viagem ter-me alertado para a baba que escorria já pela camisa abaixo, teria sido mais um galardoado com a medalha de mérito da Grã-Ordem do Esmurra o carro ao Alfacinha!

Mais uns anos e os meus reflexos não seriam tão lestos... Estabilizo o carro e com ele o pensamento...

Penso na sociedade em que vivemos... no culto do corpo e da imagem. Como se do presente que recebemos, apenas nos interessasse o papel que o circunda, não nos importando com o objecto ofertado!

Não querendo aumentar o número de pessoas que me considera um louco, afirmo que aquela imagem mais não é do que o espelho do mundo....

Insinua a nudez... mas não mostra o rego! [Seria uma heresia.... e os valores? e a moral?]

Trabalha-se a imagem... mas não se quer que abra a boca! [Estraga a fotografia... é preciso estar quietinha e a parecer confortável... não, não! mantêm a perna retorcida... isso! Muito bem!]

Pede-se um sorriso... mas não se olha à tristeza! [Não quero lágrimas! Pronto, já passou, não se fala mais nisso, ok!?]

Enfim, pensámos no Ter, mas não queremos o Ser! [Teríamos de a aturar!]