1.11.2006

O ressurgimento clássico, por volta de 1400

As soluções artísticas respondem sempre a uma fundamentação histórica do contexto em que surgiram. São, portanto, o resultado da conjugação de factores que justificam o aparecimento de determinada solução artística, em dado espaço.
Relativamente à génese do Renascimento, também factores sociais, económicos e políticos contribuiram para a sua (re)invenção, em Florença, por volta de 1400. Investigações com não mais de duas décadas, relatam circunstâncias especiais que propiciaram o seu aparecimento nesta cidade-estado.
Por volta de 1400, o estado florentino enfrentava uma séria ameaça à sua independência. Milão, cidade em ascensão, tenta dominar toda a Itália, tendo já subjugado as planícies da Lombardia e boa parte das cidade-estado da zona central da Toscana.
A bem sucedida resistência aos intentos do duque de Milão, na área militar, diplomática e intelectual, por parte dos florentinos, propiciaram a elevação de um espírito patriótico que será mantido pela própria populaça, proclamando-se defensora da liberdade contra a tirania do invasor.
Era uma guerra de propaganda, portanto, chefiada, em ambos os lados, por humanistas herdeiros de Petrarca e Boccaccio. O Louvor da cidade de Florença de Leonardo Bruni é disto exemplo, colocando em foco o ideal petrarquiano de um renascimento dos ideiais clássicos.
De facto, esta obra é de vital importância para compreendermos a percepção ideária da opinião pública florentina. Indaga sobre as razões da subjugação, sem custos, dos outros estados da panínsula itálica, ao invés da resistência por si protagonizada, encontrando a resposta no mérito das instituições, nas realizações culturais, na situação geográfica, no espírito do povo, até, nas raízes etruscas da sua pátria.
O orgulho patriótico e o apelo passado implícitos nesta imagem de Florença como a "Nova Atenas", terão despertado um profundo entusiasmo na cidade, lançando-a numa febre construtiva, segundo um novo ideário, de acordo com os cânones de proporção clássicos.
O concurso de 1401-02 para as Portas do Paraíso, do Baptistério, em que ideiais arcaizantes levaram, ainda, vantagem sobre as representações escultóricas individualizadas e de inspiração clássica de Ghiberti, foi o lançamento de um extenso programa de decoração escultórica prosseguido em diversas igrejas, enquanto se dava andamento aos planos para a construção da cúpula do Duomo, que será protagonizado por Brunelleschi e cuja camapnha durará mais de trinta anos, até 1436.
O entusiasmo e fervor patriótico da época, foi, portanto, o ténue motor que levou ao surgimento de uma arte representativa do espírito magnânimo, mas ordeiro, clássico, pelo que a aplicação das suas soluções dogmáticas, surgiu como natural, dentro de uma espírito civil de superioridade intelectual, cultural e, por isso mesmo, civilizacional.

In JANSON, H. W. (1992). História da Arte. 5ª ed. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 391-392.

continua...

2 comentários:

Sukie disse...

Ai...a bela Itália: come mi manca. Baci!

1entre1000's disse...

Sim senhor isto é que são aulas de história de Arte por fasciculos!!!! (continua... e continuarei a ler concerteza!!) ;)