11.25.2005

O Castelo de Noudar


O relâmpago flamejante na planície cerrada, surpreendia a solidão e dava alento para mais um dia no deserto de palavras que implicava a estada em tal latitude.

Pela manhã, os bons dias eram oferecidos a todos, por esvoaçantes que, sem receio, deambulavam pelas muralhas avulsas esquecidas de todos.

Alguém se havia lembrado delas, no início do século, pelo que havia sido classificada Monumento Nacional. A partir daí, abandonada, apenas o balir e o latido acompanhavam a lenta degradação das estruturas.

A população que encerrava, havia partido há muito, sem saudades do regresso, tal a lonjura da civilização. O motivo, diz-se, terá sido um epidemia que dizimou a população e que a fez procurar outras paragens.

Situado na terra de ninguém, entre Portugal e Espanha, era posse obrigatória para quem quisesse dominar a região, pelo que as batalhas sucederam-se, até à assinatura de paz em 1668. Bom, não terá sido bem assim, em 1894, a contenda entre os beligerantes, foi sanada por acordos carimbados a sangue, irmanando, para sempre, o que era de cada um.

O castelo, isolado, deixou de ser preciso, deixou de ter significado, pelo que o esquecimento natural de quem vive o dia a dia o tornou cada vez mais distante e inacessível.
Vive, actualmente, da sua paisagem, do isolamento, do peso do passado ainda por explorar. O ambiente sinistro marcado por fantasmas de outrora aí tombados, pairam errantes por entre o vento que gela os corpos à sua passagem.

A paisagem verdejante acalma o espírito, pintalgada de vida e de cheiros ondulantes, é toda ela dinâmica com a brisa que sopra, trazendo sons longínquos e imperceptíveis ao ouvido, mas reconhecidos por quebraram o silêncio avassalador que impregna o ar.

Num espaço esquecido, tudo é volátil, apesar do vento levar a mensagem da sua existência, a corrente de pensamento, longe de imaginar a sua existência, e de se dedicar a assuntos da memória, deixa-a escapar, até à ruína...

Assim vai o nosso património.


Fotografias gentilmente cedidas por Raquel Neves.

5 comentários:

Poor disse...

belíssimo texto para comemorar!:)
belissimo.

Miguel de Terceleiros disse...

Estás lá! Continua a cascar desta forma.

1entre1000's disse...

Assim vai o nosso património e tu brindas-te-o com umas boas palavras!!! Muito bom...

carlos alberto disse...

Já começa a ser habitual esta nossa forma de tratar o património!
Abraço!

Sukie disse...

Belo, belo.